O manifesto completa hoje 22 dias de paralisação. Eles pedem o asfaltamento da via e afirmam que só sairão do local com uma solução para o caso.
Clima tenso
O clima é tenso no município de Monte Alegre, região oeste do Pará. Moradores do polo Pariçó, decidiram por meio de assembléia geral realizada no ultimo dia 10 de agosto, interditar, por tempo indeterminado, a estrada que interliga pelo menos oito comunidades da região e é considerada a principal via de escoamento da produção, tanto das comunidades como das empresas privadas que utilizam a estrada para exercerem atividades comerciais.
Após inúmeras tentativas frustradas de negociação, por meio de conversas, reuniões, abaixo-assinado, ofícios, reivindicações, entre outros, os moradores, reunidos em assembléia geral na Casa de Acolhida Santa Maria, na comunidade Pariçó, no dia 10 de agosto, discutiram a melhor solução para o descaso, os transtornos e prejuízos causados às mais de seiscentas famílias que moram no polo Pariçó, composto pelas comunidades Jurunduba, Juçarateua, Peafú-comunidade Quilombola, Andirobal, Sapucaia, Saudoso e São Tomé.
Por unanimidade, os moradores decidiram fazer um movimento para chamar a atenção das autoridades e dar visibilidade ao que eles chamam de descaso por parte da gestão pública para com a situação que, segundo eles, se arrasta há décadas. A assembléia decidiu então pela interdição por tempo indeterminado da estrada polo Pariçó e criação do “Movimento Social Pavimentação Já”. Os moradores pedem a pavimentação asfáltica da via por meio do programa “Asfalto por todo Pará”. Eles afirmam que só sairão do local quando obtiverem uma resposta concreta que lhes assegure a pavimentação da estrada.
A interdição iniciou no dia 11 de agosto. Para isso, os moradores usaram pneus, galhos secos, cavaletes e faixas. Os serviços das empresas privadas também estão paralisados. Só é permitido o acesso aos serviços essenciais e aos comunitários. Com o passar dos dias, os manifestantes resolveram acampar no local, na expectativa de serem procurados pela gestão municipal para um diálogo, uma solução.
Passados 22 dias após o início da manifestação, a situação permanece na mesma. Nem prefeitura de Monte Alegre nem o governo do Pará procurou o Movimento para negociar. O clima é tenso, já houve conflitos no local. No último dia 14, seis lideranças foram detidas, segundo eles, de maneira arbitrária, na tentativa de frear o movimento. Passaram dois dias presos, porém, as lideranças do Movimento Social Pavimentação Já conseguiram a liberdade dos mesmos.
A estrada continua bloqueada. Já chegou a faltar carne na cidade por conta da interdição. As máquinas da ETEC, empresa que faz a compactação da pavimentação asfáltica do programa “Por todo o Pará”, do governo do estado, também estão “detidas” na comunidade Pariçó.
O escoamento da madeira, retirada da Flora Paru, também está paralisado, assim como outros serviços econômicos prestados por empresas privadas.
O presidente do Conselho União Polo Pariçó (UPP), Pedro Édipo, afirmou que está sendo ameaçado de morte por conta do manifesto. Em virtude da atuação à frente do movimento ele foi exonerado do cargo que ocupava na secretaria de educação, esporte, cultura e turismo do município.
“A situação aqui está tensa, desde sábado estou sendo ameaçado de morte, é nítido, é inevitável um conflito à vista, nossa resistência e coragem não nos permitem encerrar esse manifesto sem um posicionamento do governo. Pode acontecer um massacre de ambas as partes, e que a história vai contar que o governo municipal e o governo do estado se omitiram e poderiam ter evitado, 21 dias hoje, nós só vamos sair de lá morto ou com um posicionamento positivo em resolver a situação de ambas as partes seja do município ou do estado! Já perdi meu emprego por retaliação, não tenho nada a perder mais! Vai ter conflito, que poderia ter sido evitado se tivéssemos políticos comprometidos com políticas públicas de verdade”, afirmou Édipo, com exclusividade ao RD.
No início do movimento os manifestantes chegaram a fechar a frente da cidade à altura da comunidade Pariçó usando um empurrador e balsas carregadas de seixo. O bloqueio impedia a passagem de embarcações na área.
Segundo moradores de comunidades interligadas pela estrada a prefeitura ficou de enviar representantes para negociar mas ninguém teria aparecido no local até então. Os moradores afirmam que só saem de lá quando o município discutir melhorias para o trecho.
Nesse vídeo, gravado por um morador, ele reclama da poeira na estrada. “Essa é a realidade que a gente vive aqui, pra gente ir pra nossa casa todos os dias, tem que ser nesse sofrimento, a gente não vê mais a estrada, de tanta poeira, essa é a nossa realidade”.
A redação tentou entrar em contato com a assessoria da Prefeitura de Monte Alegre para um posicionamento do gestor local mas, até o fechamento da matéria, não obteve êxito. O espaço está à disposição da prefeitura para possível resposta.
Ao governo do Estado foi solicitada uma nota em relação às reivindicações dos moradores do polo Pariçó e aguardamos resposta.
Da redação