Especialistas contestam decisão do Governo do Estado para afrouxamento das medidas mais restritivas no enfrentamento da pandemia

Mesmo com estabilidade alegada, número de infectados e óbitos por covid-19 quase dobraram na última semana no Pará

A pandemia do novo coronavírus deixa um rastro irreparável em inúmeras famílias pelo mundo. O Brasil, nas últimas semanas, vem batendo recordes preocupantes e caminha avançando em números assustadores. O país registrou, até ontem, 25, segundo o Ministério da Saúde, 23.473 mil óbitos e 374.898 pacientes infectados pela doença. Somos a segunda nação com mais mortes, atrás apenas dos Estados Unidos, com 99.459 vítimas fatais.

A curva de achatamento da pandemia, infelizmente, parece não existir. Percebe-se uma reta que, até agora, está direcionada para cima. Mas, alguns Estados já começam a afrouxar as medidas restritivas, a fim de retomar algumas atividades econômicas. E essa decisão parece ignorar a declaração feita há uma semana pela Organização Mundial da Saúde (OMS), informando que a América do Sul é o novo epicentro da doença. São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco, Pará e Amazonas estão na lista de Estados que tem o maior número de mortes no país.

Nesta segunda-feira, 25, o Pará registrou 26.077 pacientes infectados e 2.375 óbitos em por causa da covid-19. Os dados divulgados pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) no site www.covid-19.pa.gov.br, não confirmam o discurso do Governo do Estado de baixa nos casos da doença no Pará.

No domingo, 24, chegou ao fim o lockdown em 16 cidades paraenses. Mais de 3,5 milhões de pessoas buscam, aos poucos, retomar à vida normal, mesmo com as limitações das atividades, já que apenas as essenciais seguem liberadas para funcionar. Desde o dia 7 de maio, quando foram decretadas as medidas mais restritivas para enfrentar a pandemia, mais de 3,8 mil multas forma aplicadas pelos órgãos de segurança pública. Reflexo da média de 49,28%, bem abaixo do recomendado pela OMS.

Estudo aponta uma “tendência de redução” de casos e óbitos de covid-19 na Grande Belém  

A flexibilização das medidas de isolamento social, segundo o Governo do Estado, está embasada no relatório técnico realizado pela Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e Universidade Federal do Pará (UFPA), com o apoio da Sespa, da Secretária de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (Sectet) e Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Pará (Prodepa), que mostra que o número de casos na capital paraense segue em tendência de queda. 

Segundo a análise, “a região metropolitana de Belém apresenta uma tendência de redução na contaminação e óbitos por covid-19, bem como na sua demanda por recursos hospitalares. Este fato, na atual conjuntura, permite afirmar que o dimensionamento destes recursos está condizente com a capacidade de suprimento do Estado”.

Especialistas contestam decisão do Governo em suspender o lockdown

A tomada de decisão do Governo do Estado vem sendo questionada, inclusive por pesquisadores. Dentre eles, Luis Sandeck, usou as redes sociais para explicar os motivos que levam a discordar da flexibilização do isolamento social. Segundo ele, “há uma falha na metodologia, usada para estabilização da curva”.

O Ministério Público Federal (MPF) e a Defensoria Pública da União (DPU) enviaram à Justiça Federal nesta sexta-feira, 22, uma manifestação em que insistem em pedidos feitos em ação ajuizada em abril, para que o Estado do Pará seja urgentemente obrigado a adotar e manter medidas mais rigorosas de isolamento social durante a pandemia da covid-19, sempre fundamentadas por informações científicas. Segundo os órgãos, faltam estudos que avaliem as consequências do relaxamento.

Em sua publicação, ele cita que o estudo “diz que estamos em um platô nas curvas real e prevista, porém se a população sair do isolamento social, é provável que o comportamento amostral desses dados mude e mude para bem pior!”.

Segundo Luis, o relatório técnico utilizou dados de pessoas que foram testadas e contabilizadas. Ou seja, pessoas que tiveram o covid-19 e não foram testadas e estão curadas (assintomáticos), não entraram na base de dados. Logo, a subnotificação atrapalha na acurácia do modelo.

No dia 20 de maio, o titular da Sespa, Alberto Beltrame admitiu a subnotificação nos dados e afirma que se deve à demora das prefeituras em informar os casos ao Governo do Estado

“Nas conclusões ele, meio que confirma o que eu disse anteriormente sobre as variáveis que não entraram no modelo, a subnotificação, entre outras coisas… logo esse estudo não serve para respaldar a tomada de decisão sobre as medidas de isolamento no Estado e nem na capital”, comenta na publicação.

E mais: “para o interior do Estado, a coisa fica ainda mais feia, pois as secretárias de saúde quase não notificam, tem atraso, a população não tem como procurar atendimento. Pensem nas pessoas que moram nas ilhas de Abaetetuba, por exemplo”.

Luis Sandeck ressalta que “seria preciso dados corretos, sem atrasos e sem subnotificação e uma análise exploratória mais profunda, para definir as variáveis pertinentes ao modelo, ou que poderiam influenciar o resultado”.

Para ele, o estudo é “um esforço científico, mas eu como gestor não usaria para definir a minha tomada de decisão, a não ser que estivesse consciente da necropolítica e necroeconomia que vou aplicar na população”, pontua.

Os documentos analisados por Luis e outros especialistas está disponível aqui. 

Números de infectados e óbitos por causa da covid-19 sobem de forma acelerada

Ao longo da pandemia, o Portal Roma News vem ouvindo especialistas que defendem que o isolamento social é o principal fator para frear a disseminação do novo coronavírus no Estado. No dia 16 de maio, tivemos acesso à projeção elaborada pelo pesquisador Yuri Willkens, da Universidade Federal do Pará (UFPA).

O estudo apontava que o Estado se manterá no pico da doença nos próximos dias, e deve superar os 18 mil casos nos próximos cinco dias, chegando ao dia 21 de maio com o mínimo de 18.730 casos, mas o número máximo na data poderá ultrapassar os 22 mil casos, pelos limites mínimos e máximos de confiança da projeção. O que se comprovou.

Mesmo com estabilidade alegada pelo Governo, número de casos e óbitos por covid-19 quase dobraram na última semana no Pará. Os dados mostram que o número de pessoas infectadas e de mortes praticamente dobraram no período de uma semana.

No dia 18 de maio, o Estado somava 14.734 casos positivos da doença. Segundo o boletim da Secretaria de Estado de Saúde do Pará (Sespa), divulgado nesta segunda-feira, 25, os infectados no Pará já são 26.077.

Com relação ao número de óbitos, exatamente há uma semana, no dia 18 de maio, o Pará tinha 1.330 mortos confirmados por covid-19. Já ontem, 25, o número subiu para 2.375, conforme o primeiro boletim diário divulgado pela Sespa.

Uma pesquisa realizada pela Universidade Federal do Pará, em abril, aponta que o Pará terá mais de 200 mil infectados por covid-19 até agosto. De acordo com pesquisadores, cerca de 10% da população paraense será infectada pelo novo coronavírus. 

Fonte: Roma News