Em entrevista ao UOL, a profissional que trabalha há dois anos anos em Santarém fez um desabafo.
Uma médica infectologista chamou a atenção no Twitter ao desabafar sobre o número de mulheres com HIV que ela atende. “Homens, se vocês vão chifrar as esposas de vocês, pelo menos encapem a p**** do pau quando forem comer alguém. Estou cansada de dar diagnóstico de HIV pra mulher jovem, gestante, casada há anos e que é fiel ao marido. Se vai f**** com a vida de alguém, f*** só com a tua, irmão”, escreveu.
Eduarda Prestes, de Santarém, no Pará, trabalha no Centro de Tratamento e Acolhimento (CTA) do município, e conta que todos os dias vê novos casos de HIV. Em entrevista ao portal Uol, ela contou alguns casos que acompanhou.
“No dia desse desabafo nas redes sociais, eu atendi uma grávida, creio que de sete ou oito semanas de gestação. Era o seu primeiro filho e estava acompanhada da mãe, uma senhora de quase 70 anos”, disse. “Eu vi essa mulher muito angustiada no ambulatório. Como era a primeira consulta dela, sempre buscamos acolher ao máximo. Perguntamos como está, a maneira como acredita que pegou o vírus, para quem ela vai contar e por aí vai. Durante a conversa, descobri que era professora, na faixa dos 30 anos, casada há cinco anos e que nunca teve uma relação extraconjugal”.
“Me formei há seis anos na Universidade Estadual do Pará (UEPA) e, desde que me formei, tenho oportunidade trabalhar com pessoas que vivem com HIV, antes como generalista, e há quase dois anos como especialista. Durante esse tempo histórias assim se repetem e me revoltam”, confessou.
Eduarda contou que observa padrões no diagnóstico: mulheres que estão em um relacionamento com um homem há muito tempo sem desconfiar que ele tenha relações extraconjugais desprotegidas. Algumas descobrem o vírus quando o marido já está doente, em fase de Aids, e outras testam positivo durante o pré-natal de uma gestação.
“Estamos falhando como seres humanos ao não combater isso, estamos falhando como profissionais da saúde ao não diagnosticarmos e orientarmos sobre isso, estamos falhando ao não lutarmos por educação sexual obrigatória nas escolas, que nos seria tão mais válida do que perseverar na cultura de manter sexo como um tabu na sociedade”, comentou.
Ela lembrou do caso de uma adolescente de 17 anos, que morreu após três meses de internação por meningite fúngica e complicações da Aids. Ela havia sido infectada por um vizinho, de quem sofria estupros desde os 10 anos de idade. “Essa menina poderia ter sido eu, minha filha, minha amiga. Está mais próximo do que pensamos porque HIV não tem cara, não tem rosto e não está escrito na testa de ninguém”, disse.