Açaí ‘azedo’ é seguro de tomar, reduz colesterol e combate a Salmonella, diz pesquisa da UFPA

Bactérias probióticas garante a segurança alimentar do produto mantido até 3 dias em temperatura ambiente além de trazerem benefícios para o corpo
Ney Marcondes – arquivo

Na terça-feira, 9, o DOL publicou uma pesquisa feita por cientistas da Universidade Federal do Pará (UFPA) que identificou a presença de bactérias benéficas pra saúde no açaí. Tais microrganismos garantem o consumo do alimento mesmo estando ‘azedo’, mantido em temperatura ambiente por até 3 dias, tempo máximo que o açaí pode ser consumido.

O estudo foi realizado por pesquisadores do Centro de Valorização de Compostos Bioativos da Amazônia (CVACBA), laboratório ligado à Universidade Federal do Pará (UFPA) e instalado no Parque de Ciência e Tecnologia (PCT) Guamá, em Belém.

Além de garantir a segurança alimentar do suco de açaí mesmo com o produto já ‘azedo’, como se diz popularmente, essas bactérias probióticas podem auxiliar na redução do colesterol e inibir o crescimento de microrganismos nocivos como a Salmonella.

A pesquisa analisou, in vitro, o potencial de três cepas de bactérias lácticas contra dois patógenos (organismos capazes de prejudicar a saúde): a Salmonella typhimurium e a Escherichia coli.

“A atividade antagonista em nosso estudo avaliou a capacidade das bactérias lácticas de inibir o crescimento das bactérias patogênicas no suco de açaí mantidos em temperatura ambiente por um período de até 72h, que é o tempo máximo que o açaí ainda é consumido”, diz Suenne Sato, primeira autora do artigo.

“Os resultados mostraram que as três bactérias lácticas foram capazes de inibir os dois patógenos. Sendo que para Salmonella, foram ainda mais eficazes”, aponta a cientista.

As bactérias também resistem às condições hostis do sistema digestivo humano, o que faz com que estas cheguem vivas em quantidades suficientes até o cólon, onde elas poderão entrar na corrente sanguínea.

“O trajeto da boca até o cólon, local onde as bactérias probióticas devem colonizar e exercer atividades, apresenta inúmeras condições hostis pelas quais as bactérias precisam resistir e assim chegarem vivas no cólon em quantidade suficiente”, explica Suenne.

Os resultados da pesquisa apontaram que, além da atividade antimicrobiana, as bactérias analisadas também contribuem para a redução do colesterol. 

“Para as bactérias isoladas no nosso estudo, fizemos o teste de desconjugação de sais biliares para identificar se elas apresentavam alguma atividade relacionada. Os resultados apontaram positivo para todas testadas. Isso significa uma possibilidade de contribuírem para a redução de colesterol sanguíneo”, afirma a pesquisadora.

O pesquisador Hervé Rogez, coordenador do CVACBA e orientador da tese de doutorado que deu origem ao artigo, destaca a importância da descoberta. Segundo ele, o cólon e o intestino grosso são muito importantes para a saúde humana e deve ser o segundo órgão que melhor deve ser cuidado, depois do coração.

Há pelo menos 20 anos, os probióticos já vêm sendo estudados, mas aqui na região ainda temos poucos trabalhos sobre. O fato de ter descoberto mais um benefício no consumo de açaí, fruto tão comum na dieta da região, é muito relevante”, afirma Hervé.

As bactérias isoladas foram armazenadas no banco de bactérias do açaí no CVBA para futuras pesquisas, funcionalidades e possíveis aplicações.

“As cepas podem ser utilizadas não só em alimentos, mas também na agricultura e no setor cosmético, já que os endofíticos possuem um bom histórico de serem potenciais produtores de metabólitos (substância produzida durante o metabolismo) de interesse econômico”, diz Suenne. “Ter microrganismos endofíticos especialmente isolados dos frutos de açaí pode contribuir ainda mais para a valorização desse alimento e possivelmente para trazer benefícios econômicos para toda a cadeia produtiva do açaí e para as regiões produtoras”, finaliza a cientista.

Saiba mais sobre a pesquisa:

Pesquisadores identificam bactérias com potencial probiótico no açaí ‘azedo’

Fonte: Diário Online