Pesquisadores trabalham pela preservação do peixe-boi-da-Amazônia

Atualmente, três filhotes da espécie estão sob os cuidados do grupo, no campus Belém da Ufra

Conhecido por ser um animal de natureza extremamente dócil, o peixe-boi-da-Amazônia (Trichechus inunguis) é um mamífero aquático herbívoro que ocorre nos principais tributários da bacia do Amazonas, desde o Marajó até o Peru e o Equador. Por ter sido massivamente caçado no passado e ainda hoje ser vítima de caça predatória, bem como de captura acidental em apetrechos de pesca, o animal tem status de vulnerável na lista de espécies brasileiras ameaçadas de extinção.

Entre os grupos que visam estudos e cuidados para preservar a existência do peixe-boi está o Instituto Biologia e Conservação dos Mamíferos Aquáticos da Amazônia (BioMA), com sede em Belém. O grupo conta com diversos pesquisadores voluntários, independentes ou ligados a instituições paraenses, e tem parceria do Centro Nacional de Pesquisa e Conservação da Biodiversidade Marinha do Norte (CPNOR/ICMBio) e da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra), onde vem sendo cadastrado como grupo de pesquisa e onde está localizada a atual sede do instituto.

Atualmente, três filhotes de peixe-boi-da-Amazônia estão sob os cuidados do grupo, no campus Belém da Ufra. Uma fêmea, chamada “Neguinha”, foi resgatada no município de Limoeiro do Ajuru em abril de 2018; o Cametá veio do município de mesmo nome, em dezembro de 2019; e o Arari, mais novo filhote sob a custódia do BioMA, foi resgatado em Cachoeira do Arari, em fevereiro deste ano. No projeto, esses animais são manejados por biólogos e veterinários para garantir seu bem-estar até uma possível soltura no meio ambiente. Os três filhotes agora estão sendo preparados para ser enviados ao zoológico da Unama, em Santarém, em uma ação fruto de parceria entre BioMA, CEPNOR/ICMBio, ZooUnama, Instituto Bicho D’água e Grupamento Aéreo de Segurança Pública (Graesp).

Muitas mães de peixe-boi são mortas por caçadores ou acidentalmente, deixando os filhotes órfãos e vulneráveis. Quando avistados nesta situação, a população informa aos órgãos competentes para que façam o resgate dos animais e os encaminhem a institutos de pesquisa. Hoje existem dezenas de filhotes resgatados na região Norte do Brasil (Pará, Amapá e Amazonas). “O que a gente faz é cuidar dos animais, fazendo a sua reabilitação, dando leite três vezes ao dia, limpando as piscinas e oferecendo vegetação natural, tudo com o mínimo de contato possível para que eles não se acostumem muito à presença humana e possam voltar à natureza”, diz o pesquisador Gabriel Melo-Santos. A ideia é que eles sejam enviados para o ZooUnama, que possui uma estrutura de semicativeiro. Quando os filhotes estiverem prontos, eles devem ser enviados de volta para serem soltos no mesmo ambiente de onde vieram. 

O professor da Ufra Frederico Ozanan, que integra a equipe do Instituto BioMA, explica que o grupo de pesquisa está em fase de cadastramento junto à Pró-Reitoria de Pesquisa e Desenvolvimento Tecnológico (Proped), mas que, na prática, a parceria com a Ufra teve início ainda em 2017, com a participação voluntária de professores e alunos da universidade. A ideia é ampliar ainda mais a colaboração: “Hoje a nossa parceria é no sentido logístico, laboratorial e veterinário. Estamos agregando conhecimento para tentar desenvolver estudos mais aprofundados em pesquisa em níveis de graduação e pós-graduação na área de mamíferos aquáticos”.

O peixe-boi da Amazônia é considerado o menor dos sirênios, podendo medir de 2,8 a 3 metros e pesar até 480 kg. Diferente do peixe-boi marinho, que ocorre em águas costeiras e em rios da região do Atlântico, a distribuição do peixe-boi-da-Amazônia é restrita à bacia amazônica. Os sirênios são os únicos mamíferos aquáticos essencialmente herbívoros que existem. Na Amazônia, eles se alimentam de uma grande variedade de plantas aquáticas, como mururé e aninga.

Conheça

Além de atendimento, resgate, reabilitação e monitoramento de peixes-boi, o Instituto BioMA também trabalha com etnobiologia e educação ambiental e monitoramento de botos em hábitat natural. Mais informações nos perfis do grupo no Instagram ou no Facebook.  

Fonte: Ufra/Roma News