Rússia diz que aprovou 1ª primeira vacina contra covid-19; comunidade científica desconfia de eficácia

Segundo o presidente, imunizante é seguro e já foi administrado em uma de suas filhas; regulamentação abre caminho para vacinação em massa, mas comunidade científica desconfia da rapidez e falta de transparência na produção.
Vacina é esperança para o tratamento de covid-19 Foto: Andreas Gebert/Reuters

O presidente Vladimir Putin disse, nesta terça-feira, 11, que a Rússia se tornou o primeiro país do mundo a aprovar a regulamentação para uma vacina contra a covid-19, após menos de dois meses de testes em humanos. A aprovação abre caminho para a imunização em massa da população russa, ainda que o estágio final de ensaios clínicos para testar a segurança e eficácia continue. 

A velocidade com que a Rússia está se movimentando para lançar sua vacina destaca a determinação em vencer a corrida global por um produto eficaz, mas despertou preocupações de que pode estar colocando o prestígio nacional acima da ciência e segurança sólidas. Moscou, no entanto, afirmou que a aprovação é sinônimo da sua “proeza científica”.

Em uma reunião governamental na televisão estatal, Putin afirmou que a vacina, desenvolvida pelo Instituto Gamaleya, é segura e que até mesmo foi administrada a uma de suas filhas. “Sei que funciona de maneira bastante eficaz, forma uma forte imunidade e, repito, passou em todos os testes necessários”, disse Putin. Ele disse que espera que o país comece a produzir em massa a vacina em breve. O ministro da Saúde russo, Mikhail Murashko, já havia anunciado que a imunização deve começar em outubro.

Vacina é esperança para o tratamento de covid-19
Employee Philipp Hoffmann, of German biopharmaceutical company CureVac, demonstrates research workflow on a vaccine for the coronavirus (COVID-19) disease at a laboratory in Tuebingen, Germany, March 12, 2020. Picture taken on March 12, 2020. REUTERS/Andreas Gebert

A partir da aprovação pelo Ministério da Saúde do país, inicia-se um estudo maior envolvendo milhares de participantes, comumente conhecido como estudo de Fase 3. Esses ensaios, que exigem uma certa taxa de participantes que contraem o vírus para observar o efeito da vacina, são normalmente considerados precursores essenciais para que um imunizante receba aprovação regulatória.

Especialistas em todo o mundo têm insistido que a corrida para desenvolver vacinas contra o novo coronavírus não comprometerá a segurança. Entretanto, pesquisas recentes mostram uma crescente desconfiança do público nos esforços dos governos para produzir rapidamente – e sem transparência – o imunizante.

Os profissionais de saúde russos que tratam pacientes com covid-19 terão a chance de se voluntariar para serem os primeiros vacinados, juntamento com professores, logo após a aprovação do imunizante, disse uma fonte à Reuters no mês passado.

Mais de 100 vacinas possíveis estão sendo desenvolvidas em todo o mundo para tentar frear a pandemia de covid-19. Pelo menos quatro estão em testes finais de Fase 3 em humanos, de acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS).

Rússia batiza vacina como ‘Sputnik V’ 

O governo russo anunciou que o nome da vacina aprovada será “Sputnik V”, uma referência ao primeiro satélite artificial do mundo – lançado na corrida espacial da Guerra Fria.

De acordo com Kirill Dmitriev, CEO do Fundo Russo de Investimentos Diretos (RFPI, na sigla em russo), Moscou vê o sucesso da Rússia em se tornar o primeiro país a aprovar uma vacina. Dmitriev informou ainda que o país já recebeu pedidos de mais de 20 países para 1 bilhão de doses do seu imunizante recém-registrado.

OMS diz que está discutindo nova vacina com a Rússia

Após o anúncio do presidente Vladimir Putin, a OMS informou que está discutindo com as autoridades de saúde russas o processo para uma possível pré-qualificação para a vacina contra a covid-19 recém-aprovada, disse o porta-voz da OMS na terça-feira.

“Estamos em contato próximo com as autoridades de saúde russas e as discussões estão em andamento com relação à possível pré-qualificação da vacina pela OMS, mas, novamente, a pré-qualificação de qualquer vacina inclui a revisão e avaliação rigorosas de todos os dados de segurança e eficácia necessários”, disse o porta-voz da OMS Tarik Jasarevic em coletiva da ONU, em Genebra, referindo-se a ensaios clínicos.

Fonte: Estadão

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