País ultrapassou 100 mil mortes pela doença no sábado, 8; Bolsonaro tem atribuído a responsabilidade do avanço da pandemia a gestores dos Estados e municípios.
Após o Brasil ultrapassar as 100 mil mortes pela covid-19 no último sábado, 8, o governo Jair Bolsonaro disparou para parlamentares um relatório em que destaca nomes de governadores e prefeitos dos locais com o maior número de novos óbitos e novos casos confirmados da doença. Ao tentar se eximir das críticas pela condução do enfrentamento ao coronavírus, o presidente tem atribuído a responsabilidade do avanço da pandemia a gestores dos Estados e municípios.
O documento enviado a congressistas por meio de um aplicativo de mensagem é assinado pela Secretaria Especial de Assuntos Federativos, subordinada ao ministro-chefe da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, e usa dados do Ministério da Saúde. O relatório interno, ao qual o Estadão teve acesso, destaca os “Top 5” governadores com mais mortes e novos casos. O ranking de prefeitos é feito com base apenas no número de diagnósticos da doença.
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Desde o início da pandemia, Bolsonaro se colocou contra medidas de isolamento adotadas por governadores e prefeitos sob o argumento de que quebrariam a economia. O presidente fez visitas a comércios, participou de manifestação e, agora, após se recuperar da covid-19 tem feito viagens pelo Brasil, causando aglomeração.
Criticado pela explosão dos casos da doença no Brasil, Bolsonaro costuma citar uma decisão do Supremo Tribunal Federal que deu autonomia aos Estados e municípios para tomar medidas que tenham como objetivo tentar conter a propagação da doença. A medida, no entanto, não exime a União de realizar ações e de buscar acordos com os gestores locais.
O Ministério da Saúde está há três meses sem um titular A pasta está sendo conduzida pelo general Eduardo Pazuello. Seus antecessores, os ex-ministros Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich, deixaram o governo por divergências com o presidente na condução da crise sanitária. Após o Brasil alcançar 100 mil mortes por covid, Câmara de Deputados e Senado decretaram luto oficial. O presidente Bolsonaro não se manifestou.
Doria no topo da lista
No relatório interno, o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), aparece no topo das listas de números de casos e de óbitos. O Estado ultrapassou os 600 mil infectados e 25 mil mortes. Doria é o principal adversário político de Bolsonaro e, durante a pandemia, os dois intensificaram a troca de ataques.
Em março, durante uma videoconferência, os dois discutiram. Doria disse que o presidente deveria “dar exemplo ao País, e não dividir a nação em tempos de pandemia”. O presidente retrucou: “Se você não atrapalhar, o Brasil vai decolar e conseguir sair da crise. Saia do palanque”. Em 14 de maio, em uma reunião virtual, Bolsonaro estimulou empresários a “jogar pesado” contra Doria para evitar o fechamento total de todas as atividades com medida de combate ao coronavírus. Na época, São Paulo tinha 54.296 casos confirmados de novo coronavírus e 4.315 mortes. O governador retrucou dizendo que o presidente “despreza vidas”.
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Outros quatro governadores de estados com maior número de casos são citados: Eduardo Leite (PSDB), do Rio Grande do Sul; Rui Costa (PT), da Bahia; Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, e comandante Carlos Moisés (PSL), de Santa Catarina. No ranking de óbitos, após Doria, aparecem os governadores de Minas, Rio Grande do Sul, Goiás, Ronaldo Caiado (DEM), e da Bahia.
No “Top 5” municípios com mais casos são citados nominalmente os prefeitos de São Paulo, Bruno Covas (PSDB); Rio de Janeiro, Marcelo Crivella (PRB); de Salvador, ACM Neto (DEM); e de Fortaleza, Roberto Cláudio. O Distrito Federal aparece em segundo, mas o nome do governador Ibaneis Rocha (MDB) não é destacado.
Em nota, a Secretaria Especial de Assuntos Federativos (SEAF) da Secretaria de Governo da Presidência da República (SeGov) informou que o documento enviado aos parlamentares tem “o objetivo de monitorar a disseminação da covid-19 nos entes federativos para auxiliar na articulação do governo federal”. Entretanto, não explica o porquê dos nomes de governadores e prefeitos terem sido destacados.
“O documento em questão foi criado para contribuir internamente na gestão de curto prazo de como a pandemia está se comportando nos Estados e municípios. Os dados apresentados são todos públicos e retirados do site do Ministério da Saúde”, informou, acrescentando que semanalmente um boletim é divulgado no site da Secretaria de Governo. Estes balanços disponibilizados para o público não citam os chefes dos executivos estaduais e municipais.
O relatório também informa o número de leitos por estados, respiradores, testes rápidos e RT-PCR. O documento também relaciona a quantidade de comprimidos de cloroquina e cápsulas de oseltamivir disponibilizadas por estado.
Fonte: Estadão
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