Pesquisadores analisaram dados sobre os três primeiros meses da pandemia. Estudo mostra que taxa de transmissão no Brasil neste período foi superior a de países europeus duramente atingidos.
Cada infectado com a covid-19 no Brasil transmitiu, em média, o novo coronavírus para outras três pessoas no início da epidemia, mostrou um estudo publicado nesta sexta-feira (31/07) pela revista científica Nature Human Behavior, que analisou as características epidemiológicas da doença entre fevereiro e maio.
Realizado por pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP) e da Universidade de Oxford, entre outras instituições, o estudo revelou que o número básico de reprodução, R0, do novo coronavírus durante os três primeiros meses da pandemia no país ficou em 3,1.
Esse índice indica para quantas pessoas o vírus é transmitido por um infectado. Se ele é superior a 1, cada paciente transmite a doença a pelo menos mais uma pessoa, e o vírus se dissemina. Se é menor que 1, o número dos contágios retrocede.
Os pesquisadores compararam também o número básico de reprodução do Brasil com o de países europeus duramente afetados pela pandemia e concluíram que a taxa de transmissão no país foi superior à registrada na Espanha (2,6), França (2,5), Reino Unido (2,6) e Itália (2,5). Além disso, os países europeus conseguiram reduzir o R0 com a adoção de medidas restritivas e quarentenas.
“Enquanto as curvas de incidência para os países europeus consistentemente achataram e diminuíram desde a implementação de intervenções não farmacêuticas (sugerindo que o R0 caiu para abaixo de 1), a curva de incidência diária no Brasil continuou a aumentar”, afirma o estudo.
A pesquisa indicou que houve uma rápida disseminação da covid-19 pelo Brasil, que começou por munícipios mais populosos e com melhores conexões e se espalhou posteriormente pelos menores. Os pesquisadores apontam a falta de um lockdown e testes como fatores que contribuíram para a propagação “rápida e sustentada” da epidemia no país.
Apesar da adoção de medidas restritivas para conter a epidemia, o estudo salienta que o número básico de reprodução ainda é superior a 1, ou seja, o vírus continua se disseminando.
Os pesquisadores concluem que os resultados do estudo fornecem um contexto importante para o planejamento de saúde e triagem de diagnósticos, além de servir de base para futuras pesquisas sobre os impactos das medidas para conter a covid-19.
Para chegar a essa conclusão, os pesquisadores analisaram os dados sobre a covid-19 divulgados pelo Ministério da Saúde entre 25 de fevereiro e 31 de maio, quando o país registrava 514.200 casos e 29.314 mortes.
Atualmente, o Brasil contabiliza o total de 2.610.102 de infecções e 91.263 óbitos.
Fonte: DW
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