A proposta do projeto foi unir a valorização dos saberes tradicionais à geração de renda e à sustentabilidade
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Promover a autonomia financeira e fortalecer a identidade cultural amazônica por meio da arte e do empreendedorismo foram os principais objetivos do Coletivo Nunghara com a realização do projeto Biojoias Polo Eixo Forte. A iniciativa, que se encerrou neste sábado (22), ofereceu capacitação gratuita a 90 mulheres de seis comunidades da região do Eixo Forte, em Santarém (PA), incentivando a produção e comercialização de biojoias feitas com sementes e outros insumos naturais da floresta.
A proposta do projeto foi unir a valorização dos saberes tradicionais à geração de renda e à sustentabilidade, permitindo que as participantes desenvolvessem habilidades na criação de peças artesanais enquanto aprendiam noções de vendas e estratégias digitais. Durante as oficinas, as alunas foram incentivadas a desenhar croquis, aprender técnicas de montagem de colares, pulseiras e brincos, além de processos de acabamento, diferentes formas de fechos artesanais e exposição de produtos. Outro ponto fundamental da capacitação foi a inclusão digital, com orientações sobre o uso estratégico das redes sociais para ampliar a visibilidade das biojoias e alcançar novos clientes. Todo o material necessário para o aprendizado foi disponibilizado gratuitamente pelo projeto.
Capacitação e impacto comunitário
O Biojoias Polo Eixo Forte contemplou 90 mulheres das comunidades Pajuçara, Santa Maria, São Francisco do Carapanari, Caranazal, São Raimundo e Irurãma, sendo realizado em duas etapas. A primeira fase ocorreu no Bosque Paju, na comunidade Pajuçara, atendendo mulheres das três primeiras localidades. Já a segunda etapa, encerrada neste sábado (22), foi realizada na comunidade São Raimundo, envolvendo participantes das demais localidades.
Para Natashia Santana, coordenadora do projeto, empoderar mulheres por meio das biojoias e valorizar os recursos naturais da região são os principais propósitos da iniciativa.
“A biojoia é muito mais do que um enfeite. Ela carrega a identidade da Amazônia e resgata saberes ancestrais. Queremos que essas mulheres enxerguem o potencial que têm em mãos e se sintam confiantes para desenvolver seus próprios negócios ou atuar no mercado criativo”, destacou.
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Empreendedorismo e sustentabilidade
Além do impacto econômico, o Biojoias Polo Eixo Forte reforça o conceito de sustentabilidade e conservação ambiental. Durante as oficinas, as participantes aprenderam sobre extração responsável de matéria-prima, reaproveitamento de insumos naturais e a importância da floresta em pé. Segundo especialistas envolvidos, o uso sustentável de sementes e outros elementos da biodiversidade amazônica pode gerar oportunidades de negócio sem comprometer os recursos naturais.
Para Angelsea, instrutora do projeto, trabalhar com biojoias vai além da geração de renda:
“Trabalhar com biojoias não é apenas uma alternativa financeira, mas também uma forma de preservar a floresta e os conhecimentos tradicionais. Quando uma peça é vendida, não é só o produto que chega ao cliente, mas toda uma história de cultura e respeito à natureza”, ressaltou.
Com essa visão, o projeto incentivou as mulheres a enxergar a produção artesanal como um caminho de crescimento pessoal e profissional, além de uma oportunidade para superar situações de vulnerabilidade econômica e social.
Para Francimara Dias, moradora da comunidade São Francisco do Carapanari, a experiência foi transformadora:
“Eu percebi que posso buscar sementes no quintal da minha casa e nos espaços da comunidade onde moro. Amo fazer artesanato e quero viver financeiramente dessa atividade. Fiquei feliz com todo o aprendizado que o projeto me ofereceu, eu não teria condições de pagar um curso assim”, afirmou.
Apoio e perspectivas futuras
O Biojoias Polo Eixo Forte foi contemplado no Edital Pontos e Pontões de Cultura II, financiado pela Lei Paulo Gustavo do Pará.
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Para a equipe organizadora, o sucesso do projeto reforça a importância de iniciativas voltadas à formação profissional, inclusão social e fortalecimento da economia criativa. A próxima edição está prevista para acontecer no município de Belterra, atendendo mulheres das comunidades da Floresta Nacional do Tapajós (Flona).
Ao transformar elementos da floresta em biojoias exclusivas, as participantes do projeto demonstraram que tradição e inovação podem caminhar juntas. O projeto não apenas abriu novas possibilidades de renda, mas também fortaleceu a conexão entre as comunidades e a biodiversidade amazônica.
Para Natashia Santana, além do aprendizado técnico, a iniciativa estimula autonomia, autoconfiança e senso de pertencimento, permitindo que as participantes enxerguem suas habilidades como um diferencial competitivo.
“Cada biojoia produzida carrega não apenas beleza e criatividade, mas também um compromisso com a sustentabilidade e o desenvolvimento local. Muitas dessas mulheres já pensam em criar suas próprias marcas e se inserir no ecossistema da Bioeconomia, enquanto outras desejam trabalhar para marcas já consolidadas no mercado. São novos sonhos que começam a se tornar realidade”, concluiu.
A expectativa agora é que as sementes plantadas durante as oficinas continuem germinando, impulsionando o protagonismo feminino e o empreendedorismo sustentável na região.
Colaborou: Natashia Santana