Debate foi o último do pleito eleitoral realizado pela TV Tapajós, afiliada da Rede Globo
Por Jota Ninos
Se depender do debate entre candidatos à Prefeitura de Santarém – realizado ontem à noite (25/10), na TV Tapajós (Globo) – só existe uma certeza sobre o futuro prefeito de Santarém: ele será um político sem ensino superior. E não falo isso para desmerecer os dois candidatos, José Maria Tapajós (ZÉ15 – MDB) e Juscelino Kubitscheck Campos de Souza (JK do Povão – PL), ambos com apenas o ensino médio completo (até porque temos um presidente, Lula, também sem ensino superior, que comprova não ser um diploma a certeza de um bom gestor).
[Só para registro, o último prefeito sem ensino superior eleito em Santarém, foi José Ronaldo Campos de Souza, justamente pai de JK, há quase 40 anos.]
Na verdade, o embate televisivo entre os dois candidatos pouco contribuiu para mudar o atual cenário da campanha, pois foi mais um debate com menos propostas e mais provocações, idêntico ao do 1º turno com cinco candidatos no estúdio. Há pesquisas para todos os gostos nesta campanha (como tem sido nos últimos anos em todo o Brasil). Umas dão vitória para um, outras para o outro, e pelo menos uma fala em empate técnico.
Os dois candidatos se portaram como mandam seus figurinos azul e amarelo (que vestiram desde o início da campanha), mantendo suas características como políticos, com um toque de seus marketeiros: Zé Maria, contido e seguro como convém a um candidato governista, e JK mais histriônico e sarcástico, como convém a um opositor, no seu papel de franco atirador.
Isso só prova que os debates eleitorais, a cada ano que passa, tornam-se mais do mesmo. O que deveria ser um espaço para uma última chance de discutir propostas, acaba mais parecendo um octógono para uma luta de UFC verborrágica, quase sempre sem nexo.
Formato
O novo formato de debates de segundo turno da Globo, que já foi aplicado nas eleições de cunho nacional, teve sua estreia nos debates deste ano por todo o Brasil.
Os candidatos podem andar livremente no estúdio e conversar com seu oponente, mas no caso de Santarém havia um desconforto entre os dois candidatos que não ficavam longe de seus púlpitos e sempre que queriam perguntar saiam para o centro do estúdio perdendo segundos importantes e deixando vácuos entre uma pergunta e uma resposta. Sem contar que o cronômetro do estúdio, que deveria regular o tempo dos candidatos falhou várias vezes, deixando a mediadora global Cláudia Bomtempo (não é trocadilho…rs) todo tempo impaciente…rs
Mas o formato não atrapalhou a performance dos candidatos. Eles cumpriram exatamente o que esperam os marketeiros em fim de campanha: evitar algum deslize que mude o cenário das ruas. JK insistiu na frase: “Teve oportunidade de fazer e não fez”, enquanto ZÉ15 marcou sua presença com a pergunta: “Cadê o cadeado, candidato?”, em alusão à denúncia feita em campanha sobre JK ter esquecido um cadeado aberto, quando trabalhava na penitenciária, o que gerou a fuga de um preso perigoso. O tema insistentemente repetido por ZÉ15 criou um certo desconforto em JK, que às vezes afirmava ser “Fakenews”, outras vezes tentava justificar o que aconteceu e em algumas vezes gaguejava…
ZÉ15, como na campanha, mostrou várias propostas de seu plano de governo sempre afirmando que sabe como fazer e que tem parceria pra concretizar, enquanto JK rebatia dizendo que quer acabar “com a mamata das dinastias da política de Santarém”, sem nunca explicar como pretende administrar a cidade.
De qualquer forma, seja quem for eleito, um novo ciclo político pode ser consolidado a partir de domingo: ou com um candidato que juntou todas as lideranças antagônicas entre si ao seu redor ou com um que diz que vai acabar com essas “dinastias”, como se não fizesse parte da “dinastia” anterior a estas, representada pelos seu pais.
Jota Ninos, jornalista e Analista Judiciário