No País a média de óbitos de médicos é de quase dois profissionais por dia
Depois de mais de dois meses do início da pandemia do novo coronavírus no País, 113 médicos morreram vítimas da covid-19. O Pará ocupa o segundo lugar no Brasil com o número de médicos mortos: 27 casos. No País a média é de quase dois profissionais por dia, desde que o primeiro óbito foi registrado, 17 de março. No Pará, o primeiro caso confirmado da doença foi dia 18 de março, em Belém, capital do Estado. Até 14h15 deste sábado (23), o Pará soma 2,1 mil mortes, 23.622 casos confirmados e 295 em análise.
Ainda em relação à morte de médicos, o Pará fica somente atrás do Rio de Janeiro, onde 30 médicos já perderam a batalha contra a covid-19. Depois vem São Paulo, com 26; Pernambuco (6), Amazonas, Minas e Paraíba (4 cada), Ceará e Rio Grande do Norte (3 cada), Paraná e Bahia (2 cada), além de Alagoas e Santa Catarina (1 cada).
Profissionais de saúde
De acordo com o Ministério da Saúde, no último dia 21, o Brasil teve 31.790 casos de profissionais da saúde confirmados para covid-19. Outros 114 mil casos estão sob investigação. O Brasil é ainda o país onde mais morrem enfermeiros no mundo por conta da epidemia. Os dados foram levantados pelo Globo.
No Pará, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) informa que a estimativa de profissionais de saúde para atendimento aos pacientes suspeitos ou confirmados com covid-19 é de cerca de quatro mil. Eles estão distribuídos nos 26 hospitais de referência para a doença. A Secretaria ressalta que ainda faz o levantamento para saber quantos profissionais estão ou fora afastados por causa da doença. Até o último dia 11, foram registrados seis óbitos de profissionais de saúde.
CFM aponta 17 mil inconformidades na infraestrutura de trabalho
Segundo estudo publicado no último dia18 pelo Conselho Federal de Medicina (CFM), médicos que atuam em unidades de saúde que prestam assistência a casos confirmados e suspeitos de covid-19 denunciaram ao Conselho quase 17 mil inconformidades na infraestrutura de trabalho oferecida por gestores (públicos e privados) de todo o País.
Entre as principais “faltas” identificadas em 2.166 serviços de saúde, estão a falta de máscaras N95 (ou equivalente), assim como de outros equipamentos de proteção individual (EPIs); a insuficiência ou completa ausência de kits de álcool gel ou 70%, de exames para covid-19; e a carência de equipes de enfermagem (enfermeiros e técnicos). Outro ponto preocupante para os médicos é a dificuldade no acesso a leitos de UTI e de internação.
Os dados fazem parte do primeiro levantamento feito pelo CFM após o lançamento de plataforma online exclusiva aos médicos com inscrição nos Conselhos Regionais de Medicina (CRMs). Desde o lançamento da ferramenta, entre 30 de março e 6 de maio, um total de 1.563 profissionais acessaram a base.
No Pará, segundo Wilson Machado, diretor de Comunicação e Tributação do Sindmepa, ainda existem diversas inconformidades na infraestrutura de trabalho oferecida para os profissionais de saúde por gestores (públicos e privados) de todo o País e do Pará. E isso é o que mais ocasiona a infecção deles, como, principalmente, a falta de EPIs.
“Acompanhamos com muita preocupação, porque a infecção e morte não somente dos médicos, mas de todos os profissionais de saúde, é crescente e, em especial, pela falta de proteção individual deles. Todos estão impostos à possibilidade de contaminação séria. No caso específico do médico (particularmente para o médico que atua com o paciente já diagnosticado), um dos maiores problemas é garantir os macacões especiais, que cobrem todo o corpo; óculos de proteção, máscaras N95, face shield ou máscara protetora facial e luvas. Desde o início da pandemia, os gestores públicos e privados alegam enfrentarem dificuldades de garantir isso, mas eles devem encontrar alternativas. Poucos hospitais conseguiram garantir isso”, afirma Machado, que é médico anestesista.
Outro fator que Machado destaca que agrava a infecção dos médicos é pelo ar devido à falta equipamento de ventilação com filtro de entubação dos pacientes. “Muitos pacientes são entubados e eles precisam de um equipamento de ventilação com filtro de entubação, para impedir com que o ar inspirado entre em contato com a face do médico que está ali operando. Mas a maioria dos espaços de saúde não o possuem. Isso acaba levando ao adoecimento e morte dos profissionais.
Mais uma gravidade apontada pelo Sindmepa é a falta de vínculo oficial de trabalho entre o médico e o tomador de serviço – o que acarreta insegurança financeira para a família e ansiedade nos profissionais. “Essa falta de vínculo oficial da atividade dá grande insegurança, porque a família fica sem nenhuma segurança financeira, quando o profissional morre. E isso desestabiliza o emocional do profissional. Temos trabalhado também para proporcionar isso junto aos gestores estadual, municipal, empresas e Ministério Público. Então, tem que haver solução para esses problemas. O que não pode é os profissionais morrerem e serem infectados. Pois, se for assim, quem vai ajudar a população no combate à doença?”, questiona Machado.
Sespa afirma que atua para evitar contaminação dos profissionais
Ainda em nota, a Sespa afirma que, para evitar a contaminação dos profissionais da área, realizou a compra e distribuição aos hospitais sob gestão do Governo do Estado de mais de um milhão e quatrocentos itens e Equipamentos de Proteção Individual (EPIs), bem como os demais itens necessários para a higienização e desinfecção, entre eles álcool, luvas, máscaras. A Sespa ainda recebeu como doações mais de quatrocentos mil itens que também estão disponíveis às Unidades.
Em relação à capacitação desses profissionais, a Sespa informa que realizou treinamentos sobre o manejo de pacientes e uso dos EPI’s. Além disso, é enviado de forma constante as Notas Técnicas, que possuem orientações para subsidiar e adequar esses profissionais.
O Liberal