Funcionários de supermercados, farmácias e escolas devem usar proteção reforçada; medida foi tomada por causa da escalada da variante Ômicron
O Ceará passou a exigir nesta semana máscaras PFF2 ou N95 de funcionários de alguns setores, como supermercados, farmácias e escolas. A medida foi tomada após o avanço da variante Ômicron do coronavírus, que está por trás de uma explosão de infectados em todo o Brasil. Os estabelecimentos podem ser até interditados caso descumpram a regra. Além do aumento de internações e mortes, a escalada de casos contribui para uma onda de afastamentos, o que impacta, por exemplo, unidades de saúde ou do serviço bancário.
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A cobrança passou a valer na segunda-feira, 24, após uma semana para que os estabelecimentos se adaptassem, e é válida para trabalhadores que tenham contato com o público, como professores, porteiros e caixas. Clientes e alunos estão obrigados a usar máscaras, mas podem ser de qualquer modelo. Não há um valor estipulado para multas – isso será avaliado pela Junta de Análise e Julgamento de Processos ligada ao governo estadual. Se flagrado o desrespeito à regra, o estabelecimento já poderá ser interditado.PUBLICIDADE
No setor de saúde, esse tipo de equipamento já era utilizado pelos profissionais. Segundo especialistas, embora as máscaras de pano ofereçam proteção, equipamentos faciais do tipo PFF2 ou N95 são mais eficientes contra o vírus. O Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC, na sigla em inglês) atualizou suas recomendações neste mês, indicando que máscaras N95 oferecem mais proteção contra a Omicron.
Alguns setores, porém, sentem a falta do equipamento no mercado. A Associação Cearense de Supermercados, Acesu, reuniu as redes de mercados para comprar volumes maiores do produto com preço mais acessível. Presidente da entidade, Antônio Sales explica que, desta forma, favorece também os estabelecimentos menores. “A nossa preocupação é com os supermercados de bairros, que adquirem o equipamento com preço maior, o que representa um ônus maior para este empresário”, esclarece.
O presidente da Associação das Escolas de Fortaleza, Alexandre Lima, também diz que os colégios formaram uma rede. “Uma das nossas escolas não teve como comprar, não tinha no mercado. Agora, cada escola doa um pouco para outra, enquanto o mercado não se abastece do produto”, comenta. Conforme a Secretaria da Educação do Ceará, estão sendo tomadas “as providências relativas ao processo de aquisição das máscaras para os profissionais de educação dos estabelecimentos de ensino da rede estadual’.
“A maioria das indústrias que fabricam têm problemas de importação, o que impossibilita abastecer o mercado. Mas estamos trabalhando para que possamos dar segurança aos nossos colaboradores e também aos clientes que chegam aos estabelecimentos”, explica o presidente do Sindicato do Comércio Varejista de Produtores Farmacêuticos do Estado do Ceará (Sincofarma), Maurício Filizola.
Orientação sobre uso é fundamental, diz pesquisador
Para Vitor Mori, físico e membro do Observatório Covid-19 BR, a medida pode ter impacto positivo, reduzindo a transmissão em locais de maior risco, ambientes fechados, mal ventilados e com muitas pessoas, como supermercados e no transporte coletivo. Mas alertou que a implementação precisa superar alguns desafios. “O primeiro seria uma comunicação adequada sobre como usar a máscara PFF2 corretamente; garantir o não vazamento é mínimo. Não é algo difícil de se fazer, mas seria muito importante um diálogo amplo e muito claro sobre isso”.
O segundo aspecto a ser pensado, defende, é a oferta do item. No Brasil, um kit com 10 exemplares varia em torno de R$ 90 a R$ 105. “Alguns países apostaram em políticas de entregas gratuitas ou emissão de vouchers para que a população pudesse adquirir sem custos extras. Esse seria o ideal”, acreditou. “Outro diálogo necessário se faz na instrução sobre o reuso adequado desse tipo de equipamento de proteção individual (EPI)”, alerta.
Países da Europa já cobram proteção reforçada
O Ministério da Saúde da Alemanha determinou, desde setembro de 2020, o uso exclusivo de máscaras cirúrgicas ou PFF2. A regra se estende também para viagens de avião, transporte público local ou de longa distância. A obrigatoriedade só não se aplica para crianças menores de seis anos; pessoas medicamente certificadas como incapazes de usar uma máscara respiratória ou máscara facial médica devido a um distúrbio de saúde, doença crônica ou deficiência; pessoas surdas ou com deficiência auditiva, as pessoas com quem se comunicam e seus acompanhantes.
A Grécia também implementou essa exigência em espaços públicos. Em 3 de janeiro, a Itália divulgou novas regras para o uso das máscaras PFF2 no país. Entre as novidades, pessoas vacinadas que entraram em contato com alguém com diagnóstico positivo para a covid são obrigadas a usá-las por 10 dias após o encontro. O equipamento também deve ser usado em cinemas, teatros, estádios; todos os transportes públicos, além do locais ao ar livre.
Fonte: Estadão