Os cálculos não batem. Os números não são só números, são pessoas. São amores de alguém. Os 15 mortos até agora de Santarém não são só 15 mortos, são 15 famílias devastadas.
“Quando eu digo que não está tudo bem é pq não está. Sou Médica formada pela UNL, Enfermeira formada pela UEPA. Especialista em Clínica Médica pela UEPA. Formada ainda em Gestão hospitalar pela FIT. Passei mais de 13 anos da minha vida querendo chegar aqui, para me deparar com essa terrivel sensação de impotência nesse momento. Sensação de que tudo que eu aprendi pode não servir de nada diante dessa maldita pandemia”.
Sou apaixonada por Medicina Intensiva e Medicina de Urgência e Emergência. Passei dias estudando e aprendendo a manejar pacientes graves. E hoje me vejo de mãos atadas vendo um conhecido precisar de um respirador e não ter. Nesse momento não posso tirar de outro para colocar nele. Meu amigos estão adoecendo. Meus conhecidos estão adoecendo. Meus colegas de trabalho estão adoecendo. Nós estamos adoecendo também.
E não é sobre não estarmos preparados para uma PANDEMIA. É sobre não estarmos preparados para o mínimo já há muito tempo. Não é digno morrer sem ter tido chance. Essa chance será negada por força das circunstâncias a alguns. E nós do lado de dentro já começamos a ver aquilo que muitos do lado de fora não podem enxergar.
Os cálculos não batem. Os números não são só números, são pessoas. São amores de alguém. Os 15 mortos até agora de Santarém não são só 15 mortos, são 15 famílias devastadas. Os 11 mil mortos no Brasil representam quase um município todo devastado se só analisarmos números, mas imaginem 11mil famílias que sofrem. A dor do outro está sendo cada vez mais a nossa também.
Já disse que nem vou mais pedir p vcs usarem máscaras, lavar as mãos, usarem alcool gel e isolamento social etc e tal. Só vou pedir que reflitam na nossa condição atual. Estou de coração aberto falando da experiência que estou vivendo neste momento. Se isso tudo fizer vc sentir um pouco da dor que nós estamos sentindo aí vcs já saberão exatamente o que devem fazer.
Falidos se recuperam, mortos não. Não há ciência que seja capaz de trazer de volta quem já partiu. Vamos exercitar a empatia pelo menos nesse momento de dor coletiva. Depois que tudo isso passar vcs podem voltar a brigar. Agora é hora de união, apoio, solidariedade, generosidade, fé , oração e amor.
Cintia Sabino
(artigo retirado do facebook da médica)
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Cíntia Sabino – Médica formada pela UNL, Enfermeira formada pela UEPA. Especialista em Clínica Médica pela UEPA. Formada ainda em Gestão hospitalar pela FIT.
É muito triste vê um profissional da saúde de pés e mãos atadas, não poder fazer nada per um paciente que o procura no momento mais critico da sua vida esperando socorro, mais o sistema não dá condições aos profissionais e que se sentem inútil e triste por ter estudado tanto e acaba não podendo fazer quase nada para ajudar salvar vidas.