Quase 6 mil famílias tiveram benefício bloqueado no Pará

Transição do Bolsa Família para o Auxílio Brasil tem causado preocupação em beneficiários, que mesmo em situação regular foram excluídos do programa
Reprodução | Mauro Ângelo – Diário do Pará

Depois de 18 anos de vigência no país, o Programa Bolsa Família começou a ser substituído, na prática, pelo intitulado Auxílio Brasil, novo programa social do Governo Federal que iniciou os primeiros pagamentos no último dia 17 de novembro. Apesar das promessas de que o novo programa não afetaria quem já recebia o benefício anterior, quase 6 mil famílias que recebiam o Bolsa Família no Pará ficaram de fora do Auxílio Brasil.

De acordo com os dados oficiais do Ministério da Cidadania, em outubro deste ano, 963.091 famílias paraenses recebiam o Bolsa Família. Por outro lado, entraram na folha de pagamento do novo benefício, o Auxílio Brasil, 957.216, ou seja, 5.875 famílias foram excluídas do novo programa neste primeiro momento. Na primeira rodada de depósitos do Auxílio, serão aplicados R$ 230.056.116,00, com pagamento médio de R$ 240,34 aos beneficiários do Pará.

Beneficiária do Bolsa Família há 10 anos, a dona de casa Severina Ferreira, 48, foi surpreendida com a notícia de que o seu benefício havia sido bloqueado. Sem entender o porquê do empecilho já que a próxima atualização do seu cadastro está prevista apenas para fevereiro do ano que vem, a beneficiária precisou encarar fila no Centro de Referência Assistência de Assistência Social (Cras) do bairro do Jurunas, em Belém. “Bloquearam desde quinta-feira (18) e com isso eu fico sem receber. Eu vim no Cras ontem mesmo porque eu preciso saber o que está acontecendo, mas o sistema ficou fora do ar e eu tive que voltar na sexta-feira (19)”.

Metade dos reajustes salariais não repõe a inflação

Assim como Severina, outros beneficiários aguardavam desde antes da abertura dos Cras para tentar resolver o problema de bloqueio do Bolsa Família. Da mesma forma, a surpresa sobre o bloqueio do benefício ocorria já no caixa eletrônico, quando o beneficiário tentava fazer o saque do valor. “O meu cadastro está atualizado, vence só em fevereiro, então não tem porque estar bloqueado. Eu tenho quatro filhos em casa que dependem desse benefício e agora eles querem agendar a gente apenas para dezembro. Até lá como é que fica?”, questiona-se. “Esse dinheiro ajuda em tudo em casa porque eu não tenho renda fixa. O que disseram é que esse novo programa não ia mexer com quem já recebia o Bolsa Família, mas agora a gente está vendo que a situação não é bem assim”.

Há 14 anos a beneficiária Jaqueline Souza, 39, conta com o benefício para garantir a alimentação em casa. Ainda hoje, o valor é fundamental para ajudar no sustento dela, das duas filhas e dos três netos. Com o benefício suspenso e diante da alta nos preços dos alimentos, ela não sabe como a situação irá ficar, caso não consiga desbloquear o benefício. “A culpa é do Governo Federal que não deveria mexer em um programa que já estava aí e funcionava direito”, indignava-se. “Se eles tinham que fazer alguma mudança, que esperassem pelo menos janeiro do ano que vem para fazer as coisas direito. Agora, no final do ano a gente tem as nossas coisas para comprar e fica com o benefício bloqueado. Com o gás a R$100 com é que a gente fica?”.

INCLUSÃO

Desde que o novo Auxílio Brasil começou a ser pago em todo o país, as filas nas portas dos Centros de Referência Assistência de Assistência Social (Cras) de Belém vêm se repetindo. Para além dos beneficiários cadastrados que, sem qualquer explicação, tiveram o benefício bloqueado, há também quem busque uma oportunidade de ser inserido no novo programa. É o caso da dona de casa Lohana Santana, 25 anos. Mãe de dois filhos e sem emprego fixo, ela conta que o benefício ajudaria em muito na manutenção da própria alimentação da família. “Eu fiquei sabendo que não estão incluindo novas pessoas por falta de verba, mas eu resolvi vir tentar porque eu estou precisando realmente”, considerou. “A minha esperança é pelo menos ser incluída em uma fila de espera”

De acordo com informações divulgadas pelo Governo Federal, através do Ministério da Cidadania, nesta primeira fase do programa, “as famílias beneficiadas em outubro pelo Bolsa Família, que mantinham a elegibilidade até o fim daquele mês, foram todas migradas, sem exigência de recadastramento”.

Sobre as famílias que não eram do Bolsa Família, mas gostariam de se cadastrar para receber o Auxílio Brasil, o Ministério informou que todas as pessoas que “estão no Cadastro Único do Governo Federal e estão elegíveis ao programa, por se enquadrarem nas faixas de pobreza e extrema pobreza, serão incorporados”, porém, não definiu uma data para que isso ocorra.

Fonte: DOL