Na luta pela vida contra a Covid-19, o jornalista paraense Pascoal Gemaque, pelas mãos de um desconhecido enfermeiro, produziu um texto que está fazendo muita gente se emocionar ao ler.
Na luta pela vida contra a Covid-19, o jornalista paraense Pascoal Gemaque, internado no Hospital Abelardo Santos, produziu um texto pautado pela alma e pelo sentimento de, pelas mãos de um desconhecido enfermeiro, buscar as forças de que precisa para vencer a batalha contra a doença. É um texto que está fazendo muita gente se emocionar ao ler.
O editor do Ver-o-Fato, o também jornalista Carlos Mendes, conhece Pascoal Gemaque de longas jornadas pelas redações de Belém. Já trabalharam juntos, no Grupo Liberal. Mendes na redação do jornal; ele, como repórter, na TV Liberal. Carlos Mendes e todos nós, jornalistas ou não, torcemos aqui para sua recuperação – assim como a recuperação daqueles que enfrentam o mesmo problema, buscando forças onde elas possam ser encontradas. Leia o que ele escreveu nas redes sociais :
” Não consigo dar dez passos sem ficar esgotado fisicamente.
O vírus transformou meus pulmões em duas bolas Dente de Leite furadas pelo vizinho chato que odeia crianças.
Tarefas simples, cotidianas, equivalem a disputar uma maratona. E eu nem maratonista sou.
Precisava escovar os dentes. Pedi a um enfermeiro que me ajudasse. Aqui, onde estou internado, esses rapazes e moças têm sido incansáveis. Não apenas ajudam, mas fazem sorrindo, felizes, nos animando. Alguém um dia há de patentear esse remédio.
La vem o Cleudson (nome fictício), com uma daquelas cadeiras cujo assento lembra um vaso sanitário. Limite máximo na fronteira entre a derrota e a humilhação.
– São Jorge Guerreiro, diz ele, olhando a tatuagem que trago no antebraço. É o meu também. Já foi na igreja dele lá no Rio? No Saara?
Balanço a cabeça.
– Sim, quando tinha forças pra batalha. Hoje, mal consigo brigar contra as cáries. Imagino a vergonha do santo….
– Queisso, chefe? Jorjão é irmão. Puxa pro lado, te dá dois tabefes na cara e manda pra luta.
Chegamos. Cadeira estacionada, pia, escova, “pasta”. Cleudson à porta, esperando, de costas pra mim, olhando pra cima.
Escovei os dentes como alguém resgatado de uma ilha. Tom Hanks revisitado. Chamei o Cleudson.
Após a porta, ele para a cadeira no corredor que dá para a rua.
– Chefe, olha. Já viu Deus hoje? Olha pra cima…
Quando alguém acostumado a escrever não consegue descrever algo… é porque a coisa é seria. Cores, luzes, o sol espalhado num céu único…
– Fala com Ele, chefe. Pede, agradece… aproveita aí…
Comecei a chorar…
Tô chorando até agora.
– Chora, chefe. Põe pra fora. Qual o valente que nunca chorou no campo de batalha?”
Reprodução: VER-O-FATO