“Tive questão de minutos para absorver a tristeza e agir de forma técnica, tudo correu bem, mas isso me marcou muito…”
“Tive questão de minutos para absorver a tristeza e agir de forma técnica, tudo correu bem, mas isso me marcou muito, nessas horas temos o dilema dos lados humano e profissional. Por trás das máscaras tem um ser humano”, contou o médico Eduardo Maia, sobre o dia que precisou entubar um parente. Os profissionais que atuam na linha de frente do enfrentamento da covid-19 no Hospital de Campanha de Santarém fizeram relatos de momentos que marcaram suas trajetórias.
O Dr. Eduardo teve sua formatura antecipada por autorização do MEC, assim como os estudantes de medicina, fisioterapia e farmácia com o objetivo de reforçar o combate ao novo Coronavírus. Ele conta que gostaria de ter se formado antes da pandemia, com todas as comemorações que a ocasião pede, mas segundo ele, recebeu o diploma dentro de um envelope e já deu início a sua trajetória profissional de buscar de todas as formas éticas para salvar vidas.
“Eu entrei no “olho do furação”, mas com total consciência que isso era o certo, pois dentro do documento da minha formatura está escrito que eu formei para combater a covid-19. Não vejo minha atuação como escolha e sim como obrigação moral’, destacou.
Entre os momentos mais marcantes para o médico, está o dia no qual ele precisou entubar um parente e só ficou sabendo de quem se tratava minutos antes. “Não é fácil ver uma pessoa da sua família daquela forma, ali foi meu teste emocional, eu só pensava que isso poderia salvar a vida dele e que eu podia fazer aquilo”, enfatizou.
A enfermeira Bárbara Thaís perdeu o tio no Hospital em que trabalhava e ainda ajudava no tratamento dele contra a covid-19. Ela fala que esse foi um dos momentos mais difíceis da vida dela. “Eu achei que não ia conseguir voltar para a linha de frente. Não é fácil atuar na linha de frente, na maioria dos dias saímos daqui esgotados, mas voltar é preciso. Chegar no dia seguinte e olhar para os pacientes, acalma o coração. Apesar de tudo, tenho gratidão por fazer parte disto e ajudar a salvar tantas vidas. Eu nunca vivi nada igual’, desabafou.
Outro relato é do fisioterapeuta e professor Luís Afonso que está tendo a oportunidade de rever os ex-alunos atuando na linha de frente do combate à doença. Para ele, essa experiência traz várias emoções diferentes, ainda mais quando precisamos cuidar dentro da Unidade de uma pessoa amiga, que conhecemos.
“Eu vivi isso com alguém muito querido. Eu tive que fazer um procedimento de ventilação mecânica em alguém que é tão querido, mas graças a Deus tudo deu certo. Nesses momentos a gente não pode se deixar levar pela emoção, não é fácil, a ficha só cai depois”, finalizou.
Para esses profissionais que usam diariamente a paramentação, simbolicamente chamada de armadura, que lembra os guerreiros, o momento mais emocionante é sempre da alta médica. Até hoje, 1º de maio, o “exército” do HCS participou diretamente em 324 finais felizes de pacientes que fizeram tratamento na Unidade e puderam voltar para casa. “O amor por salvar vidas é o que nos faz levantar todos os dias e recomeçar a luta”, disse a coordenadora de enfermagem Silvia Somera.
Ascom HCS