Comitê Popular de Combate à covid 19 repudia nota que pede reabertura de shoppings centers em Santarém

Cerca de 40 Entidades assinam o documento; confira, na íntegra.
Imagem ilustrativa

Conforme publicação do Portal O ESTADO NET
, sábado(23/01), o boletim do 9º Centro Regional da Secretaria de Saúde do Pará apontou o aumento de mais 595 pacientes monitorados com sintomas da Covid-19 nas regiões do Baixo Amazonas e Tapajós em menos de 24 horas. A matéria alerta ainda que “o informe do dia 21 registrou que havia 10.340 pessoas sendo monitoradas e em isolamento domiciliar em decorrência de apresentarem
sintomas de infecção do novo coronavírus.

Já no boletim de sexta-feira (22) o número
subiu para 10.935 em monitoramento”. Além disso, destaca o jornal, “Santarém e Itaituba são os municípios que apresentam mais casos de Covid-19 e também concentram o maior número de pessoas monitoradas, 3.500 e 2.580 pacientes
isolamento domiciliar, respectivamente”.

Além dessas informações, o Comitê tem recebido inúmeros relatos de familiares de pacientes de Santarém que já foram transferidos para Itaituba por não haver mais no município leito de UTI disponível. Algumas famílias, inclusive, denunciam a falta de assistência do governo municipal quanto às necessidades dos acompanhantes que seguem com o familiar doente para outro município, obrigando a família a arcar com os custos de hospedagem e alimentação do acompanhante.

Toda a população vem acompanhando pelos noticiários a situação de agravamento da pandemia em Santarém e municípios vizinhos com a confirmação da chamada segunda
onda no Oeste do Pará. E o Comitê Popular de Combate à Covid19 tem também estado atento ao preocupante avanço dos números de pessoas infectadas e internadas. E, como ainda estamos longe de ter vacina para toda a população, é preciso, mais do que nunca, ter rigoroso cuidado com as medidas preventivas, inclusive com o isolamento social.

Os prejuízos financeiros que os lojistas de shoppings, ou de qualquer outro ramo
comercial, possam vir a ter com os dias de fechamento de suas lojas não é nada diante
das vidas perdidas para essa doença. A tragédia de Manaus está aí para nos servir de exemplo.

Em dezembro, estudiosos já alertavam que, se não fossem tomadas medidas enérgicas para assegurar o isolamento social, teríamos o janeiro mais triste da história. O governador até publicou decretou
determinando o fechamento do comércio, mas, não resistiu à pressão dos lojistas, e voltou atrás autorizando o funcionamento normal. Resultado: uma tragédia sem precedentes – pessoas morrendo por falta de capacidade dos governantes de agirem com o rigor e a responsabilidade necessárias para salvar vidas.

Por todo o exposto, o Comitê Popular de Combate à Covid19 REPUDIA VEEMENTENTE a nota emitida pela direção de shoppings centers e lojistas/empreendedores, repudiando o decreto municipal que determinou o fechamento temporário de atividades não essenciais, como o funcionamento de shoppings. Evidentemente que toda a sociedade tem prejuízos com as consequências da pandemia.

Mas, o segmento de shoppings não é dos setores mais vulneráveis. É, portanto, inaceitável a pressão que os lojistas fazem para flexibilizar as normas de isolamento social, agindo egoisticamente para assegurar seus interesses econômicos e
demonstrando que não têm apreço pela garantia da saúde e da vida da população, inclusive de seus funcionários. Sim, porque os patrões seguem protegidos em seus veículos próprios e contarão com atendimento médico privado e até UTI aérea para se deslocarem a outros centros, se precisarem. Já os trabalhadores, em sua grande maioria, arriscam-se ao contágio no transporte público e, se forem acometidos pela covid, terão
que contar com as orações e a luta dos familiares para conseguir um leito de UTI, caso seja necessário.

Ademais, a mensagem passada pela absurda nota fortalece a narrativa negacionista que minimiza a gravidade da pandemia, o que tem custado a vida de milhares de brasileiros e brasileiras, deixando famílias inteiras devastadas pela dor da perda dos seus entes queridos, sem ter o direito de serem amparados em seus lutos.

Assim, ressaltamos que as medidas tomadas pelo prefeito de Santarém, em decreto municipal, são acertadas para assegurar minimamente o isolamento social. Só lamentamos que tais medidas não tenham sido estendidas às lojas do centro comercial da cidade, nas quais se observam cotidianamente pessoas sem uso de máscaras. Essa
situação, aliás, serve de argumento para os lojistas dos shoppings reivindicarem o retorno da abertura de suas lojas. Ao invés de colaborarem para que as medidas preventivas sejam amplamente adotadas e, assim, encurtar o tempo da pandemia, os
comerciantes dos shoppings reivindicam se juntarem aos segmentos que ignoram as
medidas de isolamento social.

Essa visão medíocre os impede de enxergar que quanto mais se alonga a pandemia, maiores são as consequências para a economia. É necessário
sensatez e responsabilidade coletiva aos empresários para compreenderem que a
recuperação da economia na pandemia não será conseguida com medidas a curto prazo
(deixe que vendamos um pouco agora) mais a médio e longo prazo, pois quanto menos
pessoas doentes e enlutadas tivermos, mais elas estarão dispostas e com condições de consumir. Toda a sociedade precisa da recuperação da economia, mas isso só se dará com a proteção da saúde e da vida das pessoas e não pela “necroeconomia”.

Por fim, cobramos da gestão pública municipal e estadual que procedam com rigorosa fiscalização para que as medidas estabelecidas sejam efetivamente cumpridas. Isto, sim, deve merecer a atenção de todos os segmentos da sociedade, pois,
os negócios podem ser recuperados, mas a economia mais rentável e que, portanto, deve
merecer todo o cuidado possível, é a vida das pessoas. Os shoppings podem suportar
uma semana de lojas fechada. Mas, quanto podem suportar os familiares de quem perde
seus amores para a covid? Santarém não vai reproduzir a insanidade de Manaus.

Santarém, 25 de janeiro de 2021.
Comitê Popular de Combate à covid-19

  • Ir. Fátima de Sousa Paiva – Coordenadora Regional Associação Francisca Maristella do Brasil – AFMB.
  • Ítalo Melo de Farías – Ordem dos Advogados do Brasil OAB Subseção / Santarém
  • Jefferson Júnior de Oliveira Souza – Sindicato dos Profissionais das Instituições Educacionais da Rede Pública Municipal de Santarém – SINPROSAN
  • Dionéia Cardoso dos Anjos – Sindicato dos Trabalhadores em Saúde no Estado do Pará SINDSAUDE
  • Guillermo Antônio Cardona Grisales, SJ. – Coordenador das Pastorais Sociais da Arquidiocese de Santarém
  • Paulo Lima e Fábio Pena – Projeto Saúde Alegria PSA
  • Sara Pereira – Federação de Órgãos para Assistência Social e Educacional FASE
  • José Edinaldo Rocha da Silva – Movimento dos Pescadores e Pescadoras Artesanais do Oeste do Pará e Baixo Amazonas – MOPEBAM
  • Antônio José Mota Bentes – Sociedade para Pesquisa e Proteção ao Meio Ambiente SAPOPEMA
  • Elves Gonçalves Vieira – Sindicato dos Trabalhadores Públicos em Previdência, Saúde, Trabalho e Assistência Social no Estado do Pará – SINTPREVS PA
  • Narciso Jose Fonseca de Senna Pereira – Sindicato dos Urbanitários do Pará – Regional Santarém
  • Antonia Trindade Valente dos Santos – Sindicato dos Enfermeiros do Estado do Pará SENPA
  • Auricelia dos Anjos Fonseca – Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns CITA.
  • Jackson Fernando Rêgo Matos, – Prof. Dr, Coordenador do Projeto de extensão Luz e Ação da Amazônia -IBEF/UFOPA
  • Claudiana Sousa Lirio – Federação das Organizações Quilombolas de Santarém FOQS
  • Luis Carlos Moraes- Presidente – Associação dos Moradores do Bairro do Santíssimo AMORSAN
  • Rainilza Rodrigues – Sindicato dos Trabalhadores em Educação Pública do Pará/Subsede de Santarém.
  • Renan Luiz Q. Rocha – Comissão Pastoral de Pescadores -CPP
  • Claudia Grace dos Santos Santana. – Associação de Moradores do Bairro Vigia AMBAVIG
  • Valdeci Oliveira de Sousa – Associação de Moradores do Bairro Pérola do Maicá AMBAPEM
  • Raimundo Aurélio Pimentel – Associação de moradores do Bairro Uruará AMBU
  • Maria Luciene Gama Santos – Associação de Defesa dos Direitos Humanos e Meio Ambiente na Amazônia – ADHMA
  • Edna Assunção de Jesus – Associação das Mulheres Doméstica de Santarém AMDS
  • Edilberto Sena – Movimento Tapajós Vivo
  • Valéria Maria Bentes Ferreira – Grupo de Defesa da Amazônia GDA
  • Pedro Martins – Terra de Direitos
  • Eugênia Rêgo – Federação das Associações Moradores e Organizações Comunitárias de Santarém-FAMCOS
  • Pe. Eugênio Venzon, SCJ – Obras Sócias da Arquidiocese de Santarém – Pastoral do Menor
  • Tiago Rocha Pereira – Comissão Justiça e Paz da Arquidiocese de Santarém
  • Francely Brandão de Souza – Cáritas da Arquidiocese de Santarém
  • Francieli Sarturi – Rede Emancipa – Santarém
  • Damilly Yared – União de Estudantes de Ensino Superior
  • Renata Moara – Juntos Santarém
  • Frei Edilson Rocha, OFM – Ministro da Custódia São Benedito da Amazônia
  • Pe. Arilson Lima da Silva, SVD – Área Pastoral São Mateus
  • Manoel Edivaldo dos Santos Matos – Sindicato dos Trabalhadoras e Trabalhadores Rurais, Agricultoras e Agricultores Familiares do Município de Santarém -STTR
  • Alberto Silva – Instituto Uaná de Tecnologia Social
  • Rui Harayama – Professor Instituto de Saúde Coletiva UFOPA
  • Pe. Alex Palmer Sampaio Ribeiro, SJ – Companhia de Jesus – Jesuitas
  • Pe. Marco Antonio de Oliveira Santos, SJ – Paróquia Nossa Senhora do Perpétuo Socorro