Kayapós declaram guerra contra indicação de Zequinha Marinho para Distrito de Saúde. Veja os vídeos

Os kayapós fizeram manifestação e, pintados para guerra, em frente ao DSEI de Redenção mandaram mensagem para o senador Zequinha Marinho; assista.
Kaiapós reunidos em manifestação

Os índios kayapós e suas 54 aldeias de sete municípios no Pará declararam guerra à indicação feita pelo senador Zequinha Marinho do candidato derrotado à prefeitura de Redenção no último pleito, Mário Moreira. Ele é cotado para comandar o Distrito de Saúde Especial Indígena (DSEI). “Nós não queremos político, chega dessa influência nociva. Queremos um irmão nosso no DSEI, é uma decisão do nosso povo”, afirmam caciques em manifesto e vídeos enviados ao Ver-o-Fato.

“A saúde dos índios está caótica e tudo piorou quando apareceu a Covid-19, que matou até mesmo nossos líderes”, desabafa um cacique, prometendo que o senador Zequinha Marinho não terá paz se insistir na indicação de Mário Moreira. Quem conhece os kayapós sabe que eles não brincam e suas reações são imprevisíveis quando se unem e decidem não acatar imposições de “brancos”.

Segundo os caciques, a raiva deles aumentou com a gestão de Lázaro Marinho para a direção do DSEI. Os kayapós afirmam que Lázaro, que seria sobrinho do senador Zequinha, teve uma atuação desastrosa, pois teria se dedicado a “cuidar só de política” no órgão, esquecendo a real finalidade do DSEI, que é zelar pela saúde da nação indígena.

Paritik Kayapó, cacique da aldeia Gorotire, é taxativo, em vídeo enviado ao Ver-o-Fato: “não aceitamos indicação desse político Mário Moreira. Nós é que vamos decidir quem queremos aqui no DSEI”. Outro cacique, Kroti, da aldeia Kapranhkrere, acrescentou: “eu estou avisando pra vocês, seus políticos, que estão indicando a nomeação de Mário Moreira, que eu não aceito que ele entre na nossa casa, que é o DSEI”.

Em outro vídeo, em uma aldeia, brandindo terçado nas mãos, lideranças femininas reafirmam que estão dispostas a barrar qualquer iniciativa que contrarie o desejo dos índios sobre a nomeação do novo coordenador do DSEI. “Senador Zequinha Marinho, sua indicação não agradou a nossa aldeia. Queremos uma pessoa que tenha experiência com a saúde indígena”, disse uma guerreira da aldeia Krenô.

Ver-o-Fato tentou ouvir, sem sucesso, o senador Zequinha Marinho. Enviamos perguntas à assessoria do senador, mas não obtivemos respostas sobre a manifestação dos kayapós. No começo desta tarde de sábado, 26, o senador enviou, por meio de um interlocutor, a declaração de que não quer falar sobre o caso. E adiantou, sem entrar em detalhes, que estaria “desistindo disso”, possivelmente a nomeação de Mário Moreira.

Veja os vídeos com as manifestações dos kayapós:

Neste vídeo, com tradução, a manifestação das mulheres guerreiras kayapós
Em frente ao DSEI, em Redenção, a dança de guerra e manifestação de caciques

Sumiço e prisões

Para quem não sabe, Lázaro Marinho foi exonerado recentemente pelo governo Federal, depois que teve sua prisão decretada pela justiça, por suposto envolvimento no desaparecimento, no final de outubro passado, de Cícero Rodrigues de Souza, presidente da Associação dos Epilépticos de Redenção.

Lázaro, que além de coordenador do DSEI é também ex-vereador e candidato derrotado ao cargo na última eleição, foi preso provisoriamente no dia 3 passado por ordem do juiz Haroldo Silva, que atendeu pedido do promotor de Justiça, Leonardo Caldas. Além dele, foram presos pela Polícia Civil, no cumprimento da ordem judicial, o cabo da Polícia Militar de prenome Thiago e o advogado Marcelo Damasceno. Os três, de acordo com as investigações e cujo processo corre sob segredo de justiça, teriam participação no crime.

A polícia informou que câmeras de segurança mostram imagens de Cícero Rodrigues, na última vez em que foi visto, entrando no carro do policial Thiago e saindo no sentido da localidade conhecida por Casa de Tábua. Em outra diligência policial, mandados de busca e apreensão também tiveram como alvo o o prédio da DSEI, que aquela altura ainda era comandando por Lázaro Marinho. No local, a polícia apreendeu computadores.

Antes de sumir, Cícero Rodrigues de Souza estaria se preparando para receber mais de R$ 500 mil, dinheiro que seria proveniente de precatórios judiciais contra a prefeitura de Redenção. De acordo com as investigações, os suspeitos presos e já soltos queriam comandar a Associação dos Epiléticos e ter acesso aos recursos da entidade.

Cícero está desaparecido desde de 20 de outubro passado. O ex-coordenador do DSEI está envolvido no sumiço, segundo a polícia.

Fonte: VER-O-FATO