Câncer de ovário: o inimigo silencioso que desafia o diagnóstico

Com ausência de sintomas característicos nas fases iniciais, doença é uma das neoplasias mais agressivas entre as mulheres
Foto: Divulgação/reprodução

Aos 53 anos, a pescadora Rosineth Basto, moradora  do município de Curralinho, no arquipélago do Marajó, enfrenta uma luta já vivenciada por outras gerações da família. O câncer, que vitimou o pai e a irmã, também afetou outros parentes próximos, revelando um histórico familiar marcado pela doença. Mãe de dois filhos, ela descobriu que estava com o ovário comprometido em 2024, após sentir fortes dores na região abdominal. 

A ausência de sintomas característicos nas fases iniciais faz com que a neoplasia maligna leve tempo para ser detectada. Como resultado, aproximadamente 80% dos casos são identificados apenas em estágios mais avançados. Quando a doença progride, os principais sintomas são aumento do volume abdominal, dificuldade de comer, dores abdominais pélvicas, alterações menstruais e necessidade excessiva de urinar.

Rosineth Basto, 53 anos, está em recuperação de uma cirurgia.
Rosineth Basto, 53 anos, está em recuperação de uma cirurgia.

“Começou com dores muito fortes. Fui ao hospital lá na ilha, fizeram uma ultrassonografia e descobriram que eu estava com um tumor, já um pouco avançado”. Logo após o diagnóstico, Rosineth foi encaminhada para tratamento no Hospital Ophir Loyola (HOL), referência em oncologia no Pará. “O médico avaliou tudo, fiz todos os exames e aí constou que era câncer no ovário. Ele operou, retirou o tumor, e passei seis meses fazendo quimioterapia”, relatou.

Rosineth voltou a sentir dores e retornou ao hospital, onde novos exames detectaram três tumores no intestino. “Operaram de novo, tiraram os tumores. Agora estou em recuperação e aguardo apenas a cicatrização da cirurgia para receber alta médica”, contou.

Considerada a terceira neoplasia ginecológica mais frequente pelo Instituto Nacional de Câncer (Inca), o câncer de ovário fica atrás somente do câncer do colo do útero e do endométrio. A doença ocorre, predominantemente, na pós-menopausa e é o oitavo tumor maligno mais incidente, de acordo com o Ministério da Saúde (MS). Para cada ano do triênio de 2023 a 2025, são esperados 7.310 novos casos no Brasil, o que corresponde a um risco estimado de 6,62 casos novos a cada 100 mil mulheres.

Na região Norte do País, o risco estimado pelo MS é de 3,61 casos novos a cada 100 mil mulheres, ocupando a sétima posição na tabela dos Estados da federação. No Pará, de janeiro de 2023 a abril deste ano, o Hospital Ophir Loyola recebeu 379 mulheres acometidas pela doença, de diferentes etnias e idades. 

Um caso notório a nível mundial é o da atriz norte-americana Angelina Jolie. Com histórico de câncer na família, por parte da mãe e avó, a atriz é acometida pela mutação no gene BRCA1, um tipo de gene supressor de tumores, que desempenha um papel crucial na reparação do DNA. Para evitar o desenvolvimento da doença, a artista removeu ambos os ovários e mamas em 2015. Conforme explica a oncologista do HOL, Danielle Feio, outros fatores devem provocar a vigilância feminina.

Danielle Feio, oncologista
Danielle Feio, oncologista

“O câncer de ovário é uma doença muito agressiva. Costuma aparecer em mulheres a partir dos 50 anos, mas pode ocorrer naquelas mais jovens. Por isso, é bom se atentar para o tabagismo, obesidade, endometriose, nuliparidade (ausência de filhos) e histórico de câncer na família. Por isso, se eu pudesse deixar uma mensagem para as mulheres, seria: se você nunca teve filhos ou já passou dos 50 anos, compareça anualmente ao ginecologista e peça o exame transvaginal. O diagnóstico precoce salva vidas. Tudo o que é diagnosticado precocemente tem maior chance de cura”, ressaltou a especialista.

De acordo com o Ministério da Saúde, mutações nos genes BRCA1 e BRCA2 e no controle do ciclo celular são observadas em até 15% das pacientes com câncer de ovário. Uma das maiores dificuldades relativas ao câncer de ovário é a detecção em estágios iniciais. Antes do diagnóstico definitivo, Rosineth relata ter sido tratada por mioma, mas acredita que a doença já estava presente. “Operei um mioma, mas não fizeram biópsia para confirmar. Quatro meses depois, as dores voltaram com mais força”, disse.

Alguns exames ajudam a identificar a presença das células cancerígenas no ovário, como o marcador tumoral CA-125. Também são indicados a ultrassom transvaginal, a tomografia computadorizada e a ressonância magnética (analisam a presença de massas e a extensão da doença), raio-X ou tomografia de tórax (identifica metástases pulmonares), biópsia, e outros exames ginecológicos.

Serviço: Para ser referenciado ao Hospital Ophir Loyola o paciente precisa ser encaminhado via sistema de regulação pela Unidade Básica de Saúde ou Secretaria de Saúde do município de origem.

*Texto de David Martinez, sob supervisão de Leila Cruz

Agência Pará

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