Uma das investigadas da operação chegou a movimentar mais de 23 milhões em apenas dois meses
A Polícia Civil do Estado do Pará deflagrou, na manhã de segunda-feira (18), por meio da Seccional Urbana do Comércio, a Operação “Truque de Mestre”. O objetivo era cumprir 12 mandados de prisão temporária e 13 mandados de busca e apreensão contra pessoas investigadas por divulgar jogos de azar através das redes sociais. Os alvos da operação são influenciadores digitais que divulgavam jogos de azar, como o Fortune Tiger, mais conhecido como “Jogo do Tigrinho”. Eles movimentavam uma vultosa quantia financeira em dinheiro ao incentivar mais pessoas a aderirem à prática do jogo.
Os presos foram encaminhados para a Seccional Urbana do Comércio onde prestaram depoimentos. Todos irão responder por estelionato e associação criminosa e já estão à disposição da Justiça. A operação “Truque de Mestre” terá continuidade com objetivo de investigar e prender outros envolvidos com os jogos de azar divulgados nas redes sociais.
“A atuação da Polícia Civil do Pará é para reprimir e combater ‘influencers’ que têm divulgado plataformas de jogos de azar e que já vitimaram inúmeras pessoas no país inteiro e no Pará não foi diferente. Temos muitas vítimas desta prática enganosa. Uma mulher chegou a movimentar mais de R$ 23 milhões em apenas dois meses. Outro homem, que conseguimos prender, teve uma arrecadação de mais de R$ 1,5 milhão, explicou o delegado-geral da Polícia Civil do Pará, Walter Rezende.
O delegado explicou ainda que todo esse dinheiro é oriundo de esquemas de jogos de azar, cassinos online.
“Todo esse dinheiro foi adquirido pelo eles com a perda financeira de muitas pessoas”, informou o delegado-geral Walter Resende.
Durante a operação, os agentes prenderam sete pessoas envolvidas no esquema de jogos, sendo quatro foram presos em Belém, uma pessoa em Bragança, uma em São Francisco do Pará e uma mulher no aeroporto de Recife. Também foram apreendidos três carros de luxo, um carro popular, duas motos, vários aparelhos celulares, notebooks, máquinas de cartão e documentos que subsidiarão investigações futuras.
Uma das vítimas chegou a perder mais de R$ 15 mil apostando no jogo. Ela venceu uma rodada mas, na hora de receber, a plataforma bloqueou a vítima, fazendo com que ela não pudesse retirar o prêmio e nem reaver o valor investido. As investigações iniciaram há quatro meses quando diversas pessoas compareceram à Seccional Urbana do Comércio para denunciar os “influencers” que estavam captando vítimas para adentrar na plataforma dos jogos online.
“A Diretoria de Polícia Metropolitana atua de forma pioneira no Pará dando o pontapé inicial nas investigações contra esses jogos de azar e na responsabilização das pessoas que incentivam a prática de apostas em detrimento da perda dos jogadores. Esse é um enfrentamento efetivo em combate a essa organização criminosa que se vale das plataformas digitais para obter ganhos ilícitos”, ressaltou o delegado Daniel Castro, titular da Diretoria de Polícia Metropolitana (DPM).
Os influenciadores digitais começaram a arrecadar muito dinheiro após darem início na divulgação dos jogos e o trabalho principal deles dentro da organização criminosa era ludibriar os seus seguidores fazendo com que eles acreditassem em uma vida de fantasias adquirida com os ganhos provenientes dos jogos. Viagens de luxo, compra de bens de altíssimo valor. Porém, tudo era uma fachada, já que os apostadores tinham baixíssimo índice de ganhos na plataforma, diferente de quem as divulgava.
“Foi comprovado que todos os influenciadores recebiam grande quantia em dinheiro para divulgar as plataformas de jogos online. Cinco pessoas ainda estão foragidas e nossa equipe continuará investigando para prender mais envolvidos neste crime que prejudica tantas pessoas. Sem contar que os alvos tentavam fazer a lavagem desse dinheiro investindo o valor arrecadado com a prática delituosa na compra de imóveis, carros de luxo e outros bens de alto valor”, contou o delegado Arthur Nobre, diretor da Seccional Urbana do Comércio.
Participaram da operação 14 equipes de policiais civis que compõem as delegacias e seccionais da Diretoria de Polícia Metropolitana (DPM) e da Diretoria de Polícia do Interior (DPI), entre elas as Seccionais da Sacramenta, São Brás, Guamá, Marituba, Ananindeua, Cremação, Pedreira, Marambaia, Icoaraci, Cidade Nova, Paar e das Delegacias do Atalaia, de Bragança e de São Francisco do Pará.
Quem são os presos:
- Gleison Pereira Soares, conhecido nas redes sociais como ‘Mago das Unhas’
O influenciador possui mais de 100 mil seguidores e diz que é “empresário apostador”. Nas imagens compartilhadas pela internet, ele diz que conquistou a reforma de uma casa, o financiamento de um apartamento, a compra de televisão, uma geladeira e viagens.
Recentemente, Gleidson expôs aos seguidores que estaria se “despedindo dos atendimentos de unhas”. Segundo ele, o motivo seria que, “para a sua segurança, não poderia mais trabalhar na área”.
“Foram 8 anos dedicados a essa profissão, hoje até mesmo pela minha segurança não posso mais realizar esse lindo trabalho. Não é um adeus, talvez um até logo? Não sei ainda”, declarou o Mago das Unhas.
- Suzana Karla Melo de Araújo
É mãe de Noelle Araújo, uma das influenciadoras que está sendo investigada por envolvimento no esquema de jogos de azar. Em suas redes sociais, ela também compartilhava os faturamentos e aliciava pessoas a apostarem.
- Gessica Meireles Alves
A influenciadora excluiu suas redes sociais após ser presa pela polícia. Ela tinha mais de 30 mil seguidores.
Além de compartilhar os links dos jogos de azar, também mostrava seu dia-a-dia como empresária no ramo de estética e bronzeamento.
- Rayssa Natacha Motta Berbary
Possui mais de 110 mil seguidores em uma rede social e sempre compartilha suas participações nos eventos de lançamentos de plataformas de jogos de azar. Na descrição de seu perfil, Rayssa diz que é “50% apostadora e ajudante de ansiosos”.
- Jamily de Pinho Ipiranga
A influenciadora possui mais de 100 mil seguidores em suas redes sociais e compartilha frequentemente os possíveis ganhos que realiza com as plataformas de jogos de azar, incluindo gravações de telas com valores altos e a facilidade de como seria possível ganhar.
- Ianne Raquel Andrade dos Santos
A criadora de conteúdo tem 18 anos e, segundo seu perfil na internet, atua como modelo fotográfica e blogueira. A influencer tem mais de 120 mil seguidores nas redes sociais e divulga os seus ganhos para eles.
- Emily Almeida da Penha
Ela afirma ser produtora de conteúdo em suas redes sociais. A paraense, antes de excluir sua conta, contabilizava mais de 100 mil seguidores. Seu perfil tinha imagens de viagens, compra de carro e links destacados para que o público pudesse apostar.
Investigados
Outras seis pessoas são apontadas pela Polícia como envolvidas, de acordo com a investigação da Polícia Civil do Pará, e estão foragidas.
Um dos foragidos é Noelle Araújo – considerada um dos principais alvo da investigação. A mãe dela, Suzana Carla Melo de Araújo, foi presa.
Os foragidos são:
- Noelle Maria de Araújo Lopes
- Ingrid Naiane Silva da Silva
- Lucas Tavares Lobo
- Hellen Mayara Oliveira Borges
- Lorrany do Socorro Almeida de Souza
O g1 Pará está em contato com advogados das pessoas citadas na reportagem – veja ao final o que dizem as defesas de cada um.
Milhões de reais movimentados
Há duas semanas, o Fantástico mostrou que influenciadores chegaram a ser presos por promoverem o “Jogo do Tigrinho”, mostrando que a prática é feita no país inteiro.
O delegado Daniel Castro diz que, no Pará, um dos investigados teve um fluxo de mais de R$ 20 milhões, e que no ato de prisão de um deles, houve a notificação de pix que somou R$ 50 mil.
“No momento que cumprimos um desses mandados chegou a notificação de pix R$20 e R$30 mil para um alvo. Ou seja, num simples movimentar, foram R$ 50 mil reais que entraram hoje”, diz o delegado.https://1bc4804d5fba65287061e23aa4729981.safeframe.googlesyndication.com/safeframe/1-0-40/html/container.html?n=0
Operação
Segundo as investigações, os influenciadores ganhavam dinheiro para incentivar os seguidores a fazerem apostas em plataformas de jogos de azar, ilegais aqui no Brasil.
As investigações começaram com denúncias de pessoas que foram lesadas e com a identificação de situações percebidas pelos investigadores.
Os investigadores dizem que Gleidson Pereira Soares, que se apresenta como Mago das Unhas, é um dos principais alvos da operação junto com a infuenciadora Noele Araújo.
“Para você ter uma ideia, eles compraram casas de luxo em condomínios de Belém, veículos importados. Só em uma residência que fomos, encontramos roupas, bolsas, acessórios de marca europeias de luxo, caríssimos, originais”, disse Daniel Castro.
“Quem entra nesse jogo nunca ganha. Quando você vai retirar, eles bloqueiam o valor”, disse o delegado Arthur Nobre.
Além dos mandados de prisão, também foram realizados 12 mandados de busca e apreensão, incluindo em uma casa de prostituição na capital, de propriedade de uma das envolvidas.
Policiais quebraram as janelas para entrar. O local seria usado para lavar dinheiro das apostas.
Na operação desta segunda-feira, ainda foram apreendidos cinco carros de luxo, duas motos, aparelhos eletrônicos e documentos que devem subsidiar as investigações.
O que dizem as defesas
O advogado de Géssyka Alves disse que ela não não sabia que se tratava de uma atividade ilegal. “Acredito que, além dela, muitas outras pessoas são aliciadas pra fazer a divulgação desse tipo de aplicativo”, diz o advogado de defesa Ivan Mello.
Já a defesa de Rayssa Berbary disse que sua “cliente não cometeu crime nenhum. A situação será toda esclarecida durante o processo”.
Essa segunda parte da matéria ainda está sendo atualizada pelo g1 Pará
Fonte: Agência Pará e g1 Pará