Também conhecida como pacu-de-barriga-vermelha, essa espécie de peixe da Amazônia tem valor comercial e potencial para a aquicultura.
Referência internacional na cobertura de pesquisa biológica de peixes de diferentes ecossistemas aquáticos do planeta, o periódico britânico Journal of Fish Biology acaba de publicar, em sua última edição, artigo inédito sobre o processo de formação inicial da pirapitinga (Piaractus brachypomus), peixe de valor comercial bastante consumido pela população do Baixo Amazonas e com potencial para a aquicultura. O estudo foi realizado em Santarém (PA) pela Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), por meio do Laboratório de Ecologia do Ictioplâncton e Pesca em Águas Interiores (Leipai), vinculado ao Instituto de Ciências e Tecnologia das Águas (ICTA).
Com o título “Ontogenia inicial do peixe de valor comercial pacu de barriga vermelha Piaractus brachypomus (Characiformes, Serrasalmidae) da Amazônia, Brasil” (em tradução livre), o artigo aborda o desenvolvimento inicial da espécie Piaractus brachypomus, popularmente conhecida como pirapitinga ou pacu-de-barriga-vermelha, a partir da descrição de suas características morfológicas, merísticas e morfométricas.
Durante o estudo, foram analisados 127 indivíduos da espécie, em diferentes fases de desenvolvimento – 47 em larval vitelino, 35 em pré-flexão, 5 em flexão, 20 em pós-flexão e 20 juvenis – com comprimento padrão variando entre 2,92 e 48,61 mm. Por meio das relações morfométricas, o estudo evidenciou que as maiores mudanças durante a ontogenia inicial dessa espécie ocorrem na transição do estágio pós-flexão para o período juvenil, indicando mudanças no comportamento, forrageamento e fisiologia. O estudo foi realizado pelo bolsista de iniciação científica Zaqueu dos Santos, aluno do curso de Ciências Biológicas do ICTA, sob a orientação do professor doutor Diego Zacardi e apoio da professora doutora Lenise Vargas Flores da Silva, ambos da Ufopa. Também assinam o artigo Ruineris Almada Cajado e Lucas Silva de Oliveira, mestrandos da Universidade Federal do Pará (UFPA); e Fabíola Silva, do Leipai.
Amplamente explorada pela pesca regional por servir como fonte de alimento e renda para uma expressiva parcela da população do Baixo Amazonas, a manutenção dos estoques naturais da pirapitinga possui relação direta e indireta com a atividade pesqueira, sendo, por isso, protegida pelo defeso. Além disso, essa espécie nativa da Amazônia também apresenta enorme potencial para a aquicultura. “Neste sentido, nosso estudo pode assessorar a produção de juvenis, tanto para peixamentos em mananciais como para a utilização da espécie na piscicultura, de forma a contribuir para o desenvolvimento do setor aquícola local”, afirma o professor Diego Zacardi, que orientou o estudo.
Pesquisa – O estudo identificou que as larvas da espécie nascem pouco desenvolvidas e possuem um vitelo discoidal até aproximadamente 6,33 mm de comprimento padrão. Durante a ontogenia inicial, a boca passa de terminal para subterminal e a abertura anal atinge a linha vertical sobre a região mediana do corpo. Há mudanças na forma do corpo de longo e moderado para alto; no comprimento da cabeça, de pequeno para grande; e no diâmetro do olho, de moderado para grande.
Também gerados durante o período embrionário, cromatóforos dendríticos, responsáveis pela coloração da pele e dos olhos do animal, são presentes na parte ventral, dorsal e superior da bexiga natatória nos estágios larvais mais iniciais. Manchas arredondadas são evidentes em todo o corpo dos juvenis. O número total de miômeros – segmentos musculares dispostos em sequência – varia de 39 a 41 (20-23 pré; 17-20 pós-anal).
Além de contribuir para ampliar o conhecimento biológico de espécies de peixes nativos da Amazônia, a pesquisa pode auxiliar nos inventários e estudos de monitoramento do ictioplâncton, uma vez que fornece a descrição morfológica de todos os estágios de desenvolvimento larval, possibilitando a correta identificação das larvas de pirapitinga capturadas em ambiente natural (áreas de crescimento). “Dessa forma, esse trabalho nos ajuda a compreender quais os períodos e épocas de reprodução da pirapitinga e a identificar os locais utilizados como berçários e criadouros naturais, como forma de subsidiar políticas públicas de gestão, manejo e conservação desse recurso pesqueiro”, explica Diego Zacardi.
Confira o artigo completo, em inglês, AQUI.
Comunicação/Ufopa, com informações do professor Diego Zacardi