A programação oficial do CineAlter (Festival de Cinema Latino-americano de Alter do Chão) teve início nesta quinta-feira (3). A realização da mostra infantil, a presença de lideranças indígenas e a exibição do documentário “Amazônia, a nova Minamata?” foram destaques da abertura que movimentou um grande público no Centro Comunitário e na Praça Sete de Setembro em Alter do Chão, no oeste do Pará.
Durante a tarde, centenas de crianças de escolas públicas da região do Eixo Forte participaram da mostra infantil, a grande novidade deste ano. Cinco filmes voltados para este público foram exibidos. Entre eles, “Ainbo: a guerreira da Amazônia”, uma produção peruana, holandesa e norte-americana distribuída pela Paris Filmes. A animação em 3D é a estreia do cineasta José Zelada, que escreveu produziu e dirigiu o longa. Ao lado dele, Richard Claus também trabalhou como diretor.
Ainbo nasceu e foi criada na aldeia de Candámo, na floresta Amazônica. Um dia, descobre que sua tribo está sendo ameaçada por outros seres humanos. A garota enfrenta a missão de reverter essa destruição e extinguir a maldade do Yakuruna, a escuridão que habita o coração de pessoas gananciosas.
Durante a noite, na abertura oficial, um ritual indígena em defesa do Rio Tapajós foi realizado com lideranças locais. Em seguida, o filme de abertura “Amazônia, a nova Minamata?”, prendeu a atenção dos presentes e fez uma profunda análise sobre a contaminação mercurial sofrida na região.
O documentário do consagrado diretor Jorge Bodanzky mostra o trabalho de médicos e lideranças que enfrenta resistência de garimpeiros e até do governo brasileiro para poder apresentar os resultados dos estudos que apontam como o mercúrio afeta a vida dos Mundurukus e a semelhança com o caso da cidade de Minamata, no Japão, cuja população sofreu sequelas seríssimas no sistema nervoso central, levando muitos à morte e à geração de crianças com má formação congênita.
“É tudo o que eu queria, exibir o filme na região em que ele foi rodado para as pessoas que vivem aquilo que ele mostra. O filme estreou há dois dias em São Paulo, mas o momento mais importante é aqui. E fico feliz de participar de um evento grandioso como o CineAlter, Alter do Chão se transforma em sede de um evento cinematográfico de grandes proporções com uma vasta programação para o público na praça”, destaca o diretor do filme, Jorge Bodanzky.
A exibição contou também com lideranças indígenas como Maria Leusa e Alessandra Munduruku, que estão no longa metragem exibido. Sobre a obra e a luta que o povo Munduruku trava pela preservação ambiental, Alessandra destaca o quanto é importante trazer a temática para o festival.
“Estamos falando de saúde dos peixes, dos rios e principalmente da população. Estar em Alter do Chão exibindo este documentário é muito importante. As pessoas precisam entender de onde vem o garimpo, que nosso rio está doente e o filme mostra isso. Nossos corpos estão contaminados com mercúrio por conta do garimpo”, ressalta Alessandra Munduruku
Na sexta-feira (4), acontece a mostra Açaizeiro, com produções feitas por paraenses, de abordagem e linguagem livre, com recortes das mais variadas regiões do estado. Às 20h, no Centro Comunitário de Alter do Chão acontece uma Roda de Conversa com o Tema Negritude, Arte e Racismo Ambiental, com a participação de integrantes do movimento negro e quilombola do Oeste do Pará. Haverá também a exibição do curta-metragem “Palmas da Liberdade”, da diretora Joyce Cursino. O CineAlter segue com atividades até o domingo (6).
CineAlter
Entre 3 e 6 de novembro CineAlter (Festival de Cinema Latino-americano de Alter do Chão), um dos eventos mais importantes do audiovisual na Amazônia, será realizado na vila balneária de Alter do Chão, distrito localizado em Santarém, no oeste do Pará. Serão quatro dias de festival com atividades de exibição e programação multicultural que envolvem música, exposições fotográficas, dança e teatro.
Ao todo, 789 produções foram inscritas, oriundas de 21 países da américa latina e outros continentes. Porém, somente 38 serão selecionados e outros 4 serão convidados, resultando num total de 42 filmes exibidos na grande tela. De acordo com a coordenação, a escolha se deu através de uma curadoria profissionalizada e com uma diversidade de olhares sobre as produções.
Serão cinco categorias, sendo duas competitivas: Samaúma (Latino-Americano) e Açaizeiro (filmes paraenses). As mostras paralelas são: Seringueira (filmes de indígenas, pessoas pretas e LBGTQIA+) e Ipê (filmes de baixo-custo). A novidade deste ano será a mostra infantil, que deve contar com a exibição de 5 obras voltadas para este público. A premiação se divide em 7 categorias: Melhor Curta, Melhor Atuação, Melhor Longa, Menções Honrosas, Prêmio do Público, Melhor Filme Paraense e Concepção Artística.
O CineAlter é uma realização do Instituto Território das Artes (ITA) e da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp) em Termo de Fomento com a Secretaria de Estado de Cultura do Pará (Secult/PA) e correalização da Associação de Atores, Autores e Técnicos do Teatro de Santarém (ATAS). Em 2021, o festival mobilizou 8 mil pessoas presencialmente e 10 mil pessoas por transmissão on-line.
Com informações da assessoria