População se junta a Exército ucraniano ‘disposta a tudo’ para resistir à invasão russa

Moscou não conseguiu dominar a capital, Kiev, nem a segunda maior cidade ucraniana, Kharkiv
Soldado ucraniano em Kharkiv, Ucrânia Foto: Sergey Bobok/AFP

Após um início avassalador, invadindo a Ucrânia em três frentes, tropas russas têm tido dificuldade para tomar as duas principais cidades do país, Kiev e Kharkiv, graças a resistência feroz do Exército ucraniano, ajudado por civis armados com fuzis e até mesmo bombas incendiárias. Acompanhe em tempo real a guerra na Ucrânia (conteúdo aberto para não assinantes).

Moscou bombardeia Kiev há três dias, mas não consegue tomar a cidade, que resiste em uma batalha urbana penosa para os russos, apesar de sua superioridade numérica.  Em Kharkiv, a infantaria russa tenta tomar a cidade com incursões de infantaria, mas também ali a resistência é feroz. Com dificuldades, Putin, que no início da guerra destinou apenas 60 mil homens para a invasão já mais que dobrou esse efetivo. Hoje, 150 mil russos avançam em três frentes contra o governo de Volodmir Zelenski. 

LEIA TAMBÉM

Rússia invade a Ucrânia: veja as últimas notícias do ataque

O líder ucraniano, que ficou em Kiev e rejeitou ser retirado da cidade com auxílio americano, pediu mais ajuda militar do Ocidente para conter os russos. Segundo analistas militares, o exército moscovita tem algumas dificuldades logísticas nas linhas, e não esperava uma batalha renhida em grandes centros urbanos. 

ctv-3f5-ucrania
Soldado ucraniano pega o lançador automático de granadas de um veículo de mobilidade de infantaria russo abatido após luta em Kharkiv, Ucrânia Foto: Sergey Bobok/AFP

 A mobilização de civis contra os russos é evidente por toda a Ucrânia. Do lado de fora do hospital militar na cidade de Dnipro, no centro do país, as pessoas faziam fila ontem para doar roupas quentes e água. Desde que a guerra começou, soldados feridos chegam ao hospital, às vezes até 80 deles, em grande parte das linhas de frente no leste e sul da Ucrânia, perto da Crimeia. A unidade de saúde tem 400 leitos, mas o número de feridos ultrapassou essa capacidade nos últimos dias. Ontem pela manhã, Dnipro estava agitada.

A cidade, como muitas outras na Ucrânia, está se preparando para a guerra. Embora os soldados russos ainda estejam a alguma distância, e o som da artilharia que se tornou a trilha sonora de tantos lugares da Ucrânia ainda não seja audível, a expectativa é que os combates possam chegar a qualquer momento. Um grupo de tropas russas tentou saltar de paraquedas nos arredores de Dnipro no sábado. Um soldados foi morto e três foram capturados pelos ucranianos, mas quatro outros conseguiram escapar e, agora, estão à espreita em algum lugar da região. Em todas as entradas da cidade, grupos de homens empilhavam sacos de areia e colocavam armadilhas.  Soldados com fuzis automáticos interrogavam motoristas e revistavam carros.

No Rocket Park, uma exibição ao ar livre de mísseis balísticos intercontinentais e outros foguetes produzidos pela fábrica local Yuzhmash, homens vestidos de preto ou camuflados estavam se inscrevendo em brigadas de defesa territorial mobilizadas para proteger o perímetro da cidade e patrulhar o centro.

Perto dali, pessoas em trajes civis separavam e encaixotavam garrafas para serem transformadas em bombas incendiárias. Um homem organizava os outros, procurando voluntários para levar as garrafas para outros lugares da cidade para serem enchidas com líquido inflamável.

ctv-4zz-image
Ucranianos preparam coquetéis molotov em um pátio em Kiev; tropas russas tentam conquistar a cidade Foto: Efrem Lukatsky/AP

O jovem Bohdan Smolkov, de 15 anos, não tem idade para se juntar às forças de defesa territorial, então, ele estava tentando ajudar de diferentes maneiras o esforço de guerra. “É meu dever ajudar meu exército”, disse ele. “Tudo o que me dizem para fazer, eu faço. Eu classifico garrafas; eles me chamaram para preparar coquetéis molotov.”

Em Lviv, no oeste do país, ainda longe do epicentro da guerra, a resistência é formada por gente comum, como baristas, praticantes de snowboard, contadores e advogados, professores e zeladores. A resistência se espalha por toda a Ucrânia, mas em Lviv ela tem mais paixão e mais energia. Em cada esquina, homens se aglomeram, formando brigadas de voluntários para impedir um possível avanço russo.

Em uma cafeteria, um homem com uma mecha de cabelo preto gritou instruções para um grupo recém-formado de adolescentes e idosos. Ele lhes disse que cantos observar, que sinais procurar ao tentar localizar agentes russos e onde encontrar treinamento para usar uma arma. Poucos pareciam querer lutar. Mas quase todos acreditam que precisam. Estar na resistência, porém, pode significar mais do que disparar uma arma pela primeira vez.

Yuri, um rapper e ator que também atende pelo apelido de Surf Izi, nome que ele tatuou nos dedos, disse que estava esperando a ação. “Estamos prontos para tudo”, disse Yuri. “Sem medo.”

Clique no link abaixo e entenda mais sobre a invasão russa.

https://arte.estadao.com.br/uva/?id=zwBLl2Correções27/02/2022 | 19h55

Fonte: Estadão