Monique Malcher, de Santarém (PA), concorre ao Prêmio Jabuti, o maior da literatura nacional

Premiação será nesta quinta-feira (25). Autora é a segunda paraense indicada na categoria ficção
50 anos separam a indicação de Monique Malcher ao prêmio Jabuti, com “Flor de Gume”, da edição que premiou a também paraense Olga Savary – Monique Malcher/Arquivo Pessoal

Nesta quinta-feira (25), serão conhecidos os vencedores do mais tradicional prêmio literário do Brasil, concedido pela Câmara Brasileira do Livro, o Prêmio Jabuti, que chega a sua 63ª edição. Entre os indicados está a paraense Monique Malcher, segunda mulher paraense que concorre ao prêmio na categoria ficção, com o livro Flor de Gume. A primeira foi Olga Savary, que ganhou a honraria em 1971 e morreu em 2020 por complicações da Covid-19. 

Nascida em Santarém, no oeste do Pará, Monique Malcher escreve desde os 10 anos de forma consistente. “Fico aborrecida quando falam que sou uma escritora iniciante. É preciso desconstruir a ideia de que a literatura começa e termina no livro. Há tantos formatos dos quais faço uso que me recuso a ser tratada como uma escritora que teve sorte”, conta Monique, que já vendeu diversos dos seus formatos literários no ônibus e sempre teve como foco ser lida.

Flor de Gume trata de temas que, infelizmente, rodeiam o mundo feminino como alienação parental, violência doméstica e abuso sexual. A obra literária conta com 37 contos que reúne histórias das mulheres da vida de Monique como mãe e avós, mas também de mulheres diversas com quem cruzou em sua existência, como quando trabalhou com vítimas de violência doméstica, quando ainda exercia o jornalismo.

Flor de Gume é uma narradora em primeira pessoa e por ser em primeira pessoa enfrento a questão de acharem que sou eu. É comum, por exemplo, a pergunta se ainda falo com o meu pai, sendo que há vários escritores que usam a primeira pessoa para os seus personagens e não são questionados se o trabalho é autobiográfico. Caio neste lugar, porque sou mulher”, afirma. 


Obra reúne 37 contos com a história de mulheres que vivenciam diversos tipos de violência / Monique Malcher/Arquivo Pessoal

Literatura brasileira X literatura regional 

Com a indicação ao prêmio, Monique passou a se deparar com mais frequência com coisas que a incomodam. “É bastante desagradável chamarem a literatura que desenvolvo de regional. É literatura paraense, tem regionalidade, mas ela é uma literatura brasileira universal, porque escrevo sobre sentimentos que são universais. Ninguém diz a um autor ou autora do sul e sudeste do Brasil que eles são regionais, eles são escritores brasileiros, por quê?”, questiona. 

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Ainda na seara da nomenclatura, a autora denuncia o apagamento de escritoras da região em um ato pelo qual passou recentemente. “Foi uma situação desagradável com o site Rascunho, especializado em jornalismo literário. Eles fizeram uma matéria e simplesmente me ignoraram. Fiz um post no Instagram onde sou ativa e a resposta foi a de que não houve a intenção, eles ‘apenas’ citaram algumas categorias e por coincidência a mulher do norte do Brasil ficou de fora. É importante debater sempre as escolhas e como se constrói um texto”, provoca.

Sobre suas escolhas e a indicação ao prêmio, Monique afirma que a obra não teria a visibilidade que teve se não fosse a força de cada mulher que falou, leu e compartilhou seu livro. “Não adianta ter um livro bem escrito, se ele não circula, se ele não é lido. Então, professoras dos interiores, professoras de Belém, professoras de outras cidades começaram a usar o livro em suas aulas, eu participei de eventos online. Isso, sem dúvida, levou Flor de Gume além”. 

Apesar de alegria, a autoria faz questão de relembrar o caminho que percorreu. “É muito difícil escrever o livro, trabalhar, enquanto você tem que fazer mil coisas para sustentar aquele teu trabalho que não rende ainda dinheiro, que não paga a tua comida e eu não tenho vergonha disso. Meu objetivo é que o livro seja mais e mais lido. Isso me deixa feliz, porque são temas que precisamos debater, além de ele trazer as peculiaridades da região, que é sempre vista como algo cristalizado e nós não somos cristalizados, nós somos muitas coisas juntas, somos complexos”.

Para saber mais sobre Flor de Gume, siga: @moniquemalcher

Fonte: Brasil de Fato