Projeto, de autoria de profissionais de Santarém, foi contemplado na Lei Aldir Blanc do Estado do Pará.
O documentário “Minha Vida Por Um Fio”, que retrata as trajetórias de mulheres ribeirinhas vítimas de escalpelamento na Amazônia, será lançado no dia 29 de setembro, em Santarém, oeste do Pará.
O escalpelamento (arrancamento do couro cabeludo de mulheres e meninas de maneira brusca) é um acidente comum na região Norte do País, durante o transporte em embarcações – que ocorre quando a vítima tem o couro cabeludo arrancado pelos eixos de motores descobertos dos barcos.
O projeto, de autoria de profissionais de Santarém, foi contemplado na Lei Aldir Blanc de emergência cultural do Estado do Pará.
“O escalpelamento é um problema social em nossa região ainda invisível para as demais regiões do Brasil, inclusive para a nossa própria população. Pensando em dar a visibilidade necessária para esse assunto que é tão emergente, produzimos um documentário que expõe as narrativas de atores sociais ligados diretamente a essa realidade. Com isso, buscamos que a informação chegue a todos os públicos, contribuindo com a prevenção do acidente”, destaca a jornalista e diretora do documentário, Anna Karla Lima.
O projeto “Minha Vida Por Um Fio” é resultado de uma pesquisa de doutorado, realizada pelo pesquisador, antropólogo e doutor em Antropologia Social pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Diego Alano Pinheiro, que também é roteirista do audiovisual.
Durante dois anos Diego Alano se dedicou a estudar os acidentes de escalpelamento na Amazônia, em particular, no estado do Pará. O trabalho foi premiado como melhor tese em Antropologia e Direitos Humanos em 2020 pela Associação Brasileira de Antropologia, dada a relevância e urgência sobre a temática.
“Agora essa pesquisa se torna também documentário. Durante o estudo, observei os itinerários terapêuticos das vítimas e acompanhei os discursos dos agentes sociais diretamente ligados à realidade afim de compreender as causas do acidente que atinge principalmente mulheres jovens e crianças, causando uma desestruturação na vida social das vítimas, prejudicando significativamente aspectos no que concerne o estudo, trabalho, relacionamentos a imagem corporal. Obrigando-as a saírem de suas comunidades ribeirinhas em busca de tratamento na capital do estado”, explica o antropólogo.
Anne Almeida, de 35 anos, é uma das interlocutoras do documentário. Moradora de Abaetetuba (PA), ela foi vítima de escalpelamento quando tinha 15 anos.
“Eu tive a perda total do meu couro cabeludo, fraturei um dos braços, a face, já passei por 36 cirurgias de reconstrução. Participar desse documentário é importante para levar esse assunto a vários lugares e pessoas, com intuito de que não ocorra mais com nenhuma mulher ou crianças, porque é uma dor terrível. São cicatrizes que a gente leva para o resto da vida. O nosso desejo é que ninguém mais sofra com isso”, destacou Anne.
O documentário tem duração de aproximadamente 60 minutos foi gravado nos municípios de Santarém, Belém, Abaetetuba, Ananindeua e São Paulo e contempla as trajetórias das vítimas, as políticas públicas produzidas e as perspectivas dos ribeirinhos e do Estado.
A estreia terá sessão para convidados no auditório do Instituto Esperança de Ensino Superior (Iespes), às 19h, e simultaneamente será lançado no youtube: https://bityli.com/minhavidaporumfio
O filme foi produzido em parceria com o Grupo Canoa Filmes e seguiu todos os protocolos sanitários e de biossegurança recomendados pelas autoridades de saúde.
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Comunicação – Documentário Minha Vida Por Um Fio