Um indígena também foi ferido na cabeça, mas não corre risco de morrer. Conflito aconteceu depois que garimpeiros em barco atiraram contra indígenas da comunidade Palimiu, na Terra Indígena Yanomami.
Três garimpeiros morreram e quatro ficaram feridos no conflito armado na Terra Indígena Yanomami, nesta segunda-feira (10). Um indígena também ficou ferido com um tiro na cabeça, mas sobreviveu. A informação é do presidente do Conselho de Saúde Indígena Yanomami e Ye’kuanna (Condisi-Y), Junior Hekurari Yanomami.
O conflito aconteceu na comunidade do Palimiú, no município de Alto Alegre, no Norte de Roraima. Segundo Hekurari, o indígena ferido não corre risco de morrer. A Polícia Federal investiga o caso.
O presidente do Condisi-Y foi até a comunidade na tarde desta segunda-feira para acompanhar a situação de perto. O relato é que os indígenas foram atacados após apreenderem materiais que iriam para o garimpo.
“É um local de passagem dos garimpeiros, onde levam gasolina e alimentam todos os locais dos garimpos. As próprias comunidades fizeram barreiras, estão colocando dificuldade e estão sofrendo retaliação”, disse Hekurari.
A comunidade fica às margens do rio Uraricoera, trajeto usado pelos invasores para chegar até os acampamentos no meio da floresta.
Na ida à comunidade, Hekurari, relatou ter encontrado cartuchos de espingardas calibres 12, 28 e 20, além de munições deflagradas de fuzis e de pistolas. Dois quadriciclos foram apreendidos pelos indígenas.
“Está um clima tenso, estão com muito medo. Não sei como vai ficar hoje. Todos estão com medo. Homens vão fazer o possível para manter a segurança deles”.
Um relatório da visita do Condisi-Y foi enviado ao Ministério Público Federal (MPF), à Fundação Nacional do Índio (Funai) e Polícia Federal (PF). No documento, Hekurari pede uma ação por parte dos órgãos, após a situação entre indígenas e garimpeiros se agravar “diante da inércia da União, de seus órgãos e autarquias”.
“Diante de todos esses danos potenciais e previsíveis, que acabaram por se confirmar com o passar do tempo, e diante da inércia da União, de seus órgãos e autarquias, solicitamos que seja ajuizada alguma ação, uma vez que a situação se agravou de tal forma que o caos social se instalara e a atividade criminosa caminha para sair do controle das forças de segurança”, diz trecho do relatório.
Ainda de acordo com Hekurari, os corpos foram levados pelos próprios garimpeiros. Um dos invasores foi deixado para trás pelo grupo e foi detido pelos indígenas. O homem foi retirado da região pelo Condisi-Y e entregue à PF e a Funai, em Boa Vista.
Procurado, o procurador do MPF, Alisson Marugal diz que órgão está agindo para apurar o que aconteceu e identificar os responsáveis.
“Apurando as informações e em contato com os órgãos de segurança para as providências cabíveis e urgentes para garantir a segurança das comunidades indígenas e identificar os autores do ataque”, procurador do MPF, Alisson Marugal.
Terceiro conflito
O conflito desta segunda na região do Palimiú, entre garimpeiros e indígenas, foi o terceiro em menos de 15 dias, segundo Hekurari.
Uma dos ataques foi relatado pela Hutukara Associação Yanomami (HAY) em ofício enviado em 30 de abril. Segundo o documento, ocorreu uma troca de tiros entre um grupo de Yanomami e oito garimpeiros no dia 27 do mesmo mês, após os indígenas interceptarem uma carga de 990 litros de combustível. Não houve feridos.
“As lideranças estão indignadas com a continuidade da invasão garimpeira em suas terras e com a violência e ameaça praticada pelos invasores. Temendo que novas retaliações por parte dos garimpeiros resultem em mais conflitos violentos e mortes, os indígenas exigem uma resposta dos órgãos públicos para garantir a segurança das comunidades”, cita trecho do ofício da Hutukara.
Maior reserva indígena do Brasil, a Terra Yanomami tem quase 10 milhões de hectares entre os estados de Roraima e Amazonas. Cerca de 27 mil indígenas vivem na região, alvo de garimpeiros que invadem a terra em busca da extração ilegal de ouro.
O território também contém a referência confirmada de um povo indígena isolado, além de seis outras reportadas em estudo, segundo a Funai.
Fonte: G1 Roraima