No próximo domingo, 7/2, é comemorado o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas
A pandemia da Covid-19 tem afetado todas as regiões do país, incluindo os povos indígenas que fazem parte da primeira fase de campanha de imunização contra o vírus.
Sensíveis às doenças e habitando regiões remotas de difícil acesso até mesmo por meio fluvial, os indígenas podem ser vítimas de diversas doenças, como malária, tuberculose, infecções respiratórias, entre outras.
Criado em 2008, o Dia Nacional de Luta dos Povos Indígenas é uma data instituída pela Lei n° 11.696. O objetivo é promover a conscientização e debates sobre pautas envolvendo demarcação de terras, educação nas aldeias, saúde e violações dos direitos da população indígena no Brasil.
No Pará, o Hospital Regional do Baixo Amazonas é uma das principais unidades de saúde no Oeste do estado com assistência voltada aos povos indígenas.
Os atendimentos envolvem diversas etnias, entre elas os indígenas dos povos Kayapó, Arapiun, Borari, Zo’é, Mundururku, Wai Wai, Akunsu, Kaxuyana, Kubeo, Xavante e Yaipiyana.
De acordo com o neurocirurgião Erik Jennings, com atuação há 13 anos no Regional do Baixo Amazonas, a assistência disponibilizada a esses povos envolve até os casos considerados de alta complexidade.
“As patologias mais comuns que atendemos no hospital são relacionadas aos casos de doenças infecto parasitárias e distúrbios neurológicos. No entanto, também prestamos assistência para casos oncológicos, doenças do aparelho respiratório e anomalias cromossômicas”, explica o especialista.
Ainda, segundo Jennings, os povos indígenas atendidos estão localizados nos municípios de Santarém, Oriximiná, Jacareacanga, Altamira, Novo Progresso e Óbidos.
O Hospital Regional do Baixo Amazonas é referência em áreas como oncologia, neurocirurgia, ortopedia, nefrologia, transplantes renais e cirurgia cardíaca. A unidade é mantida pelo Governo do Pará, sendo gerenciada pela Pró-Saúde, entidade filantrópica existente há mais de 50 anos.
Enfrentamento à pandemia
Pós graduado em saúde indígena, Erik Jennings é um dos profissionais com forte atuação há mais de 18 anos na assistência aos povos indígenas na região do Baixo Amazonas. Esse trabalho teve início em 2002, após ser acionado pela Fundação Nacional do Índio (Funai), com o objetivo de prestar atendimento ao povo da etnia Zo’é.
No ano seguinte, o médico foi o responsável pela implantação do serviço de neurocirurgia no município, dando início a uma parceria com a Funai, para o atendimento aos pacientes indígenas na região do Baixo Amazonas. A assistência também é levada aos indígenas, em suas comunidades.
“Começamos a trabalhar em 2003, construindo um pequeno hospital no interior da floresta. Esse serviço dentro da comunidade tradicional Zo’é foi crescendo e a gente começou a criar rotinas de levar a saúde até à floresta, e não trazer o povo indígena à cidade”, explica Jennings.
O profissional destaca a importância e os objetivos de levar o atendimento à saúde nas comunidades. “Seguindo diretrizes assistenciais, estamos conseguindo manter a cultura e a autonomia socioeconômica desses povos. O nosso grande desafio foi construir uma assistência em saúde resolutiva sem impor um modelo médico habitual. Assim, eles mantêm hábitos tradicionais e a medicina que é realizada lá é complementar ao conhecimento desses povos”.
O neurocirurgião tem atuado continuamente no combate à pandemia da Covid-19. Além do Hospital Regional do Baixo Amazonas, o especialista também atua no apoio às ações da Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai).
No dia 21 de janeiro, Jennings deu início a vacinação do povo Zo’é, que não registrou nenhum caso do novo coronavírus até o momento. A comunidade indígena está em isolamento voluntário desde março de 2020. A Funai também estabeleceu protocolos rígidos de entrada de colaboradores nas áreas demarcadas.
“Eles compreendem a gravidade da pandemia e foram absolutamente exemplares em suas táticas de evitar transmissão em seus territórios”, conta.
Como símbolo do respeito e dedicação, o neurocirurgião foi vacinado contra à Covid-19 também na aldeia, pelas mãos de um dos indígenas da etnia Zo’é.
“Ser médico é uma benção, mas ser médico na Amazônia é mais ainda. Você lida com povos que falam outras línguas, possuem outras crenças. É uma região multicultural, onde a medicina pode interagir com a cultura e conhecimento”.
O especialista ressalta a importância de um hospital como o Regional do Baixo Amazonas no suporte e assistência aos cuidados com a saúde indígena. “O Regional é um hospital inserido na assistência. É uma unidade de retaguarda de média e alta complexidades para os atendimentos, mas também realiza ações na própria área indígena. Quando as transferências ocorrem, contamos com um hospital que entende esse contexto da saúde dos indígenas, da cultura e da língua, sendo altamente eficiente em tudo que se propõe a fazer”, afirma.
Ascom HRBA/Pró-saúde