O projeto de monitoramento tem uma estrutura de pesquisa padronizada, que permite comparações com outros sítios de pesquisa situados na Amazônia e fora dela.
Um projeto de pesquisadores do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade (PPGBEES) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), em parceria com outras instituições, avalia mudanças de longo prazo sobre a biodiversidade de mamíferos terrestres de médio e grande porte na região da Floresta Nacional do Tapajós (Flona Tapajós).
O projeto de monitoramento tem uma estrutura de pesquisa padronizada, que permite comparações com outros sítios de pesquisa situados na Amazônia e fora dela. A ideia de padronização foi inicialmente proposta pelo Programa de Pesquisa em Biodiversidade (PPBio), do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa), em 2004. O método utilizado pela equipe de pesquisa é o “Rapeld”, que combina o componente RAP, para levantamentos rápidos da biodiversidade, e o componente PELD, para estudos de longa duração. “Diversos grupos de pesquisadores podem se beneficiar da utilização de métodos padronizados em diferentes regiões geográficas. Nós utilizamos o Rapeld porque, com ele, é possível responder não apenas questões locais, mas também regionais, integrando esses dados”, explica Fadini. “O legal desses estudos em rede é que a gente percebe que não está só na Amazônia. Eu consigo responder questões relacionadas ao meu estudo, enquanto ajudo a contribuir com outras questões numa escala maior”, explica Dian Carlos, que está finalizando seu mestrado pelo PPGBEES na Ufopa.
Para responder a questões sobre a ecologia das espécies em um curto período de tempo, o grupo de pesquisadores espalhou armadilhas fotográficas para o registro de mamíferos em 40 pontos da Flona Tapajós. Em cada ponto, variáveis ambientais também foram coletadas para avaliar o papel do ambiente na relação com as espécies fotografadas. O Dr. Carlos Brocardo explica que as armadilhas fotográficas possuem sensores de calor e movimento. “Quando o animal passa, elas fotografam ou fazem filmes curtos. Depois nós recolhemos esses equipamentos e ficamos durante muitas horas para identificar as espécies através dos registros. É como se as câmeras fossem os olhos do pesquisador em campo”, detalha o pesquisador.
Até agora, os pesquisadores fotografaram mais de 25 espécies de mamíferos. As mais comuns foram: cutia, paca, gambá e veado-roxo, este conhecido na região como fuboca. Também foram registradas espécies de maior porte e ameaçadas de extinção como a anta, o cachorro-do-mato-de-orelhas-curtas, o tamanduá-bandeira, o tatu-canastra, a onça-parda e a onça-pintada. No perfil do projeto no Instagram (@peld_popa) é possível ver fotos e assistir a vídeos que mostram os animais na Flona, inclusive exemplares de onça-pintada e onça-parda. “Esses resultados mostram o quanto a Flona Tapajós é importante para a conservação da diversidade de espécies de mamíferos ameaçadas na região metropolitana de Santarém. São poucas regiões do Brasil que possuem o privilégio de ter espécies tão icônicas quanto as que ocorrem aqui, praticamente no quintal das nossas casas”, enfatiza Dra. Clarissa Rosa, do Inpa.
Mas nem tudo são flores. O mesmo estudo mostra que diferentes regiões da Flona Tapajós possuem faunas bastante diferenciadas, o que pode ser resultado de um regime de caça histórico e frequente, especialmente na parte norte da Flona, próxima aos municípios vizinhos de Santarém, Belterra e Mojuí dos Campos. Além disso, quando comparada com outras unidades de conservação de tamanho semelhante, a Flona Tapajós parece estar muito depauperada em termos de biomassa, especialmente dos grandes mamíferos. “A ocupação humana nessa região é muito antiga e não são apenas comunitários, mas também moradores do entorno e dos municípios vizinhos que praticam caça na Flona. O problema é quando essa prática deixa de ser uma atividade de subsistência e passa ser uma atividade comercial, que é proibida por lei”, ressalta Dr. Carlos Brocardo.
O projeto teve início em 2018 e o monitoramento deve ocorrer pelo menos até 2022. “O monitoramento de longo prazo é importante porque queremos determinar até que ponto as mudanças no registro das espécies podem ser resultado de alterações locais, regionais ou globais, do ambiente. Também podemos fazer previsões sobre o futuro dessas florestas, já que muitas das espécies estudadas têm papel importante na estruturação do ambiente, como dispersores e predadores de sementes, além de predadores de topo de cadeia”, complementa o Dr. Fadini. “Ao longo de dois anos de monitoramento, não registramos nenhumqueixada (espécie de porco selvagem nativo), o que traz um sinal amarelo para nós pesquisadores e para aqueles que dependem da floresta para sobreviver. Sem bichos como o queixada, a previsão é de que boa parte dos processos de regeneração dessas florestas possam ser extintos junto com ele”, avalia Arlison Castro, também integrante da equipe de pesquisa.
Sobre o projeto – Coordenado pelo Prof. Dr. Rodrigo Fadini, da Ufopa, o projeto é financiado pelo Programa Nacional de Cooperação Acadêmica na Amazônia (Procad – Amazônia), da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), e pelo Conselho Nacional de Pesquisa Científica (CNPq), através do Programa de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração (PELD – Oeste do Pará). Também participam do estudo, pela Ufopa, o Dr. Carlos Brocardo, o mestrando Dian Carlos Pinheiro Rosa e o técnico Arlison Bezerra Castro, além da Dra. Clarissa Rosa, pelo Inpa. A ONG Instituto Neotropical, Pesquisa e Conservação, a Cooperativa Mista da Flona Tapajós (Coomflona) e o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) apoiam o projeto.
Confira mais fotos e vídeos dos mamíferos registrados pelas lentes do projeto no perfil do Instagram: @peld_popa.
Comunicação Ufopa