Após meses tentando manter a linha moderada, presidente se reencontra com estilo mais agressivo
Após meses tentando manter a linha moderada, o presidente Jair Bolsonaro se reencontrou nesta terça-feira, 10, com sua versão mais agressiva e aposentou de vez o estilo “paz e amor”. Sob pressão, Bolsonaro partiu para o ataque em várias direções. Diante da ameaça do presidente eleito dos Estados Unidos, Joe Biden, de aplicar sanções econômicas ao Brasil, caso não haja atuação mais firme para combater o desmatamento e as queimadas na Amazônia, Bolsonaro reagiu e falou até em “pólvora”. Depois, ao se referir à pandemia de covid-19, disse que o Brasil precisa deixar de ser “um país de maricas” e enfrentar a doença. Para completar, chamou a imprensa de “urubuzada”.
Em cerimônia no Palácio do Planalto, o presidente adotou o confronto como estratégia para responder às críticas que vem sofrendo desde a eleição de Biden. Irritado com a pressão internacional pela preservação da Amazônia, Bolsonaro disse que uma solução apenas diplomática pode não ser possível. “Depois que acabar a saliva tem que ter pólvora. Não precisa nem usar a pólvora, mas tem que saber que tem”, afirmou o presidente. “Assistimos há pouco um grande candidato a chefia de Estado dizendo que, se eu não apagar o fogo da Amazônia, ele vai levantar barreiras comerciais contra o Brasil”, destacou Bolsonaro, sem citar Biden, durante evento para lançar a retomada do turismo no País. “Apenas pela diplomacia não dá”, emendou ele, lançando a “pólvora” na relação entre os dois países.
Biden citou a possibilidade de consequências econômicas ao Brasil por causa da política ambiental na Amazônia ainda durante a campanha, em debate com o presidente Donald Trump. No último sábado, 7, Biden foi declarado vencedor das eleições, derrotando o atual presidente americano, de quem Bolsonaro é aliado. O democrata tem recebido cumprimentos de diversos chefes de Estado, mas ainda não teve a vitória reconhecida pelo brasileiro.
No mesma cerimônia no Planalto, Bolsonaro voltou a falar que a pandemia da covid-19 está “superdimensionada”. Foi nesse momento que disse que o Brasil “tem que deixar de ser um País de maricas” e enfrentar a doença. No Brasil, mais de 5,6 milhões de pessoas foram contaminadas pelo novo coronavírus, e mais de 162 mil pessoas já morreram.
“Tudo agora é pandemia, tem que acabar com esse negócio, pô. Lamento os mortos, lamento. Todos nós vamos morrer um dia, aqui todo mundo vai morrer. Não adianta fugir disso, fugir da realidade. Tem que deixar de ser um País de maricas”, disse Bolsonaro. “Olha que prato cheio para a imprensa. Para a urubuzada que está ali atrás”, emendou, apontando para o local reservado aos jornalistas.
A declaração ocorreu horas após o presidente ter comemorado a suspensão dos testes da vacina chinesa Coronavac depois da morte de um voluntário da pesquisa. “Mais uma que o Jair Bolsonaro ganhou”, disse, atacando o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), seu adversário político. A causa provável da morte do voluntário, porém, foi suicídio.
Em um discurso de quase 20 minutos, no qual retomou seu estilo “bateu, levou”, Bolsonaro elevou as críticas à imprensa e disse que sua vida é uma “desgraça”. Afirmou, ainda, que não tem “tesão” pela cadeira de presidente.
“A minha vida aqui é uma desgraça, é problema o tempo todo. Não tenho paz para absolutamente nada. Não posso mais tomar um caldo de cana na rua, comer um pastel, assim quando saio vem essa … essa imprensa perturbar, pegar uma piada que eu faço com o Guaraná Jesus para tentar me esculhambar, tá certo?”, disse.
Ao criticar o movimento político que tenta lançar uma candidatura de centro, nas eleições de 2022, Bolsonaro voltou a citar a palavra “marica.” “Então, pessoal, temos que buscar mudanças, não teremos outra oportunidade. Vem a turminha falar ‘Queremos um centro’, nem ódio pra lá nem ódio pra cá. Ódio é coisa de marica, pô. Meu tempo de bullying na escola era porrada.”
Recentemente, o apresentador de TV Luciano Huck se reuniu com o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro. Ainda nesta segunda-feira, 9, Huck almoçou com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). A ideia é construir uma aliança de centro para enfrentar Bolsonaro na disputa de 2022. O projeto, no entanto, ainda esbarra em dificuldades políticas. Maia, por exemplo, já disse que a chance de apoiar uma chapa composta por Moro, ex-juiz da Lava Jato, equivale a “zero”.
Fonte: Estadão