ANJOS DOS ABISMOS: primeiro livro de Ruy Barata ganha edição comemorativa em centenário do poeta santareno

Publicado originalmente em 1943, livro ganha nova edição com outros textos raros do autor
Divulgação

Muitas das comemorações do centenário do poeta santareno Ruy Barata, que escreveu Belém para o mundo, foram duramente impactadas pelos dias de coronavírus; mas o legado de suas letras nestes cem anos, não passará despercebido. Uma das formas de homenagear o grande poeta chega às mãos dos leitores ainda em dezembro deste ano, um retrato de sua produção que não poderia vir em outra forma que não a de um livro.

Publicado originalmente em 1943 pela Editora José Olympio, no Rio de Janeiro, “Anjos dos Abismos” – o primeiro livro de Ruy Barata, ganha uma edição comemorativa em 2020. Agora acrescido de “outras linhas”, a publicação é um projeto que vem sendo desenvolvido desde 2019 por Tito Barata, filho do grande poeta, como uma das formas de homenagear o legado do pai.

Em uma edição super especial com projeto gráfico de José Antônio Oliveira, o clássico livro de Ruy chegará às livrarias com um conteúdo praticamente inédito até então. “Anjo dos Abismos e Outras Linhas” traz poemas escritos por Barata nunca antes publicados em nenhum de seus livros, já que foram textos publicados em suplementos de periódicos que circularam nas décadas de 30, 40 e 50; dos quais o paraense era colaborador. Há ainda textos em prosa, além de traduções feitas por Ruy, de poetas como Pablo Neruda, Walt Whitman e Louis Aragon.

O livro tem lançamento previsto para dezembro, pelo selo Secult (Secretaria de Estado de Cultura). As professoras doutoras Marinilce Coelho e Lilia Chaves participaram do processo, e assinam respectivamente a coordenação de pesquisa e a revisão. Lilia Chaves também faz a apresentação do livro.
Em “Anjo dos Abismos e Outras Linhas”, Tito destaca os textos raros, escritos por Ruy para a revista literária ‘Terra Imatura’, dirigida pelos irmãos Cléo Bernardo e Sylvio de Macambira Braga, que circulou em Belém com edições mensais entre 1938 e 1942.
“Nessa revista, Ruy publicou seus primeiros poemas, e também alguma prosa. Então alguns poemas publicados na revista ‘Terra Imatura’ foram recuperados mediante pesquisas, e serão publicados na nova edição”, adianta.

Um presente aos amantes da literatura e da história

As “outras linhas” da nova edição de “Anjo dos Abismos” são um convite aos leitores de Ruy a uma viagem de descobertas sobre o autor. Além de poemas de “Terra Imatura”, o novo livro traz ainda textos de Ruy publicados no suplemento literário “Arte Literatura”, encartado no jornal Folha do Norte entre 1946 e 1951, com um total de 165 edições. Foi neste que Barata publicou traduções de poetas de línguas estrangeiras, como o francês e inglês. Além disso, uma entrevista dada por Ruy Barata também está entre o conteúdo extra do livro, como detalha Tito Barata.
“Também no livro, vem uma entrevista do Ruy dada a um suplemento do Ceará, em 1947, onde ele traça um perfil da poesia e das artes do Pará, ou seja, tudo o que estava acontecendo no meio literário no Pará naquela época. Essa entrevista é super importante para ter conhecimento da época em que foram elaborados os poemas de ‘Anjo dos Abismos’”, pontua.

Quase 80 anos desde sua publicação original, a tecnologia editorial passou por diversas mudanças, e em uma reedição tão especial, as novidades da edição também chegam à primeira obra de Ruy Barata, para dar ao livro o ar de obra artística que ele merece.
“Vamos aproveitar os recursos da tecnologia para apresentar uma edição mais limpa, que dê mais respiro, porque antigamente, em 1943, tudo era feito em tipografias menores, então ficava tudo muito espremido na página, ou saía de uma linha para outra. Então parte da edição original demos uma outra cara aos poemas, ou seja, vai ser uma edição para colecionadores, sem dúvida, aos amantes da poesia e aqueles que querem pesquisar um pouco da história da literatura do Pará naqueles anos de 1940”, destaca Tito.

O conteúdo extra em “Anjo dos Abismos e Outras Linhas” também será acompanhado de informações primordiais. Com o trabalho das pesquisadoras Marinilce e Lilian, foi possível produzir algumas notas de rodapé, por exemplo, em que serão dadas informações sobre os contextos em que os textos foram escritos, as circunstâncias e a quem foram dedicados.

Pesquisa

Uma das pesquisadoras que embarcou na viagem para trazer à tona obras raras de Ruy Barata na nova edição é Marinilce Coelho, estudiosa da literatura paraense e professora aposentada da Universidade Federal do Pará. Mas a história dela com a obra de Ruy começou muito antes do projeto.
Quando começou o doutorado em Teoria e História da Literatura, na Unicamp, Marinilce já se debruçava sobre a trajetória do Movimento Modernista em Belém do Pará, e foi nesse processo em que encontrou os suplementos literários em que foram publicados os textos raros de Ruy Barata.

“Fui pesquisando desde o século XIX, as décadas de 20, 30; e em 40 entram os suplementos, aí me encontro com a produção de Ruy Barata como um colaborador da revista ‘Terra Imatura’, e lá publicou seus primeiros textos, seus primeiros poemas; e mais adiante Ruy Barata vai continuar no suplemento ‘Arte Literatura’, que estreia em maio de 1946[…]. Este suplemento circulou em Belém de 1946 a janeiro de 1951, e para um periódico literário ele tem uma significativa importância devido a sua extensão e sua qualidade literária”, explica a pesquisadora.

Marinilce é reconhecida pelo trabalho de pesquisa sobre a obra de Barata, e em dezembro de 2019, relembra que esteve em uma programação que dava início às celebrações do centenário de Ruy, que foram suspensas devido a pandemia. Desde lá, Tito já trabalhava no projeto da reedição do livro, e foi quando Marinilce foi chamada para integrar o time.

“Esse trabalho de pesquisa em literatura e memória sempre é bastante gratificante para mim, eu diria que é uma das minhas paixões, e tem um valor afetivo muito grande porque eu fui aluna do Ruy Barata na UFPA, quando fiz o curso de letras”, relembra Marinilce. “O Ruy realmente foi um professor, um educador, sempre lutando pela justiça social, pela democracia, pela cultura, nos ensinando a dialogar, pensar essa importância da literatura para nossa vida, para nossa formação humana. Esse trabalho, para mim, tem essa importância afetiva, e esse campo da pesquisa como uma questão social, pedagógica. É importante porque vai trazer à tona e abrir um leque de possibilidades para que outros estudiosos, uma geração mais nova, venha se dedicar, se debruçar, que tem muita coisa pra ser pesquisada, para ser estudada, para vir a público e ser recuperada”.


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Texto: Lucas Costa
Fonte: O Liberal