Presidente critica países que reclamam da postura brasileira sobre o desmatamento: ‘eles já queimaram tudo’
Com céu coberto por uma nuvem de fumaça provocada por intensas queimadas, o avião que levava o presidente Jair Bolsonaro para a cidade de Sinop, em Mato Grosso, teve de arremeter na hora do pouso nesta sexta-feira, 18, pela manhã. A nuvem de fumaça cobre o município e arredores na região e cidades vizinhas, como Cláudia, que tem recebido atuação constantes dos bombeiros militares, brigadistas e voluntários.
“Aqui, quando nosso avião foi pousar, ele arremeteu. É a segunda vez que acontece na minha vida. Uma vez foi no Rio de Janeiro. Obviamente, é sempre algo anormal de estar acontecendo. No caso, é que a visibilidade não estava muito boa. Para nossa felicidade, na segunda vez conseguimos pousar. Nós estamos vendo alguns focos de incêndio acontecendo pelo Brasil, isso acontece ao longo de anos e temos sofrido crítica muito grande”, afirmou Bolsonaro.
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Segundo a assessoria assessoria da concessionária de aeroportos Centro-Oeste Airport, foi feito “um procedimento relativamente normal e comum para casos em que não se têm visibilidade total”, em que o piloto “faz uma primeira aproximação, arremete e realiza na sequência o pouso normalmente”.
Na chegada ao aeroporto de municipal João Batista Figueiredo, o presidente, que não usava máscara, cumprimentou apoiadores – a maioria produtores rurais. Um grupo de ao menos 20 manifestantes também estava presente. Eles levaram faixas criticando a construção da Usina Hidrelétrica de Sinop, multada recentemente em mais de R$ 30 milhões pela Secretaria de Estado e Meio Ambiente pela mortandade de milhares de peixes.
Ele e sua comitiva visitaram a usina INPASA para um “ato de homenagem do Agronegócio ao Presidente da República”. “Obviamente, quanto mais nos atacarem melhor interessa para nossos concorrentes para aquilo que nós temos de melhor, o nosso agronegócio. Países outros que nos criticam não têm problema de queimada porque já queimaram tudo no seu país”, afirmou Bolsonaro, minimizando os incêndios que ocorrem no Estado.
Nesta semana, o governo federal reconheceu a situação de emergência no Estado do Mato Grosso do Sul por causa dos incêndios florestais. Dados do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) indicaram que só nos primeiros dez dias de setembro foram contabilizados 2.550 focos de queimadas, 88% do volume registrado durante todo o mês de 2019.
Em seu discurso nesta sexta-feira, Bolsonaro afirmou que o Brasil é “um exemplo para o mundo” ressaltando que a matriz de energia limpa e que “proporcionalmente ocupamos a menor área para agricultura ou pecuária do que qualquer outro país no mundo”. Ele citou o grande potencial do Estado do Mato Grosso como produtor dizendo que o local é o “coração do Brasil”. “Aqui é o local onde conseguiremos verdadeira independência, não só econômica, bem como também perante o mundo, que vai passar a nos respeitar.”
O presidente recebeu nesta sexta-feira uma homenagem de representantes do agronegócio no município de Sinop, no Mato Grosso, e o título de cidadão sinopense, aprovado pela Câmara de Vereadores e entregue pelo governador Mauro Mendes (DEM). O presidente visitou ainda a usina de etanol de milho Inpasa.
O chefe do Executivo estava acompanhado dos ministros Luiz Eduardo Ramos (Secretaria de Governo), Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional) e Tarcísio de Freitas (Infraestrutura), além do secretário Especial de Assuntos Fundiários do Mapa, Nabhan Garcia, além do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas.
Cortes
A homenagem ao presidente vem na esteira de movimentações do governo para possíveis cortes no setor. O Executivo estuda, como mostrou o Estadão/Broadcast, fazer um corte bilionário em despesas da Educação, de programas sociais, e de ministérios, como a Agricultura, para turbinar o Plano Pró-Brasil de investimentos públicos em obras.
Os cortes permitiriam o governo engordar o orçamento da Infraestrutura e do Desenvolvimento Regional. Outras ações de iniciativa do Congresso Nacional, inclusive para financiar investimentos das duas pastas, mas seguindo a orientação dos parlamentares, também entrariam na lista para receber os recursos remanejados.
A reportagem mostrou que o Ministério da Agricultura foi obrigado a encontrar uma forma de cortar R$ 250 milhões e que a Embrapa pode ter baixar de R$ 120 milhões no orçamento. Em entrevista ontem, Tereza Cristina disse não estar feliz com cortes e que já está trabalhando para evitar esse cenário.
O agronegócio também foi afetado, na semana passada, pela decisão da Câmara de Comércio Exterior, que aprovou a prorrogação por mais 90 dias da cota que permite os Estados Unidos exportar etanol sem tarifa para o Brasil. A cota venceu no final do mês passado e não havia sido renovada pelo governo brasileiro a pedido de produtores do setor.
A renovação beneficia em especial os Estados Unidos e reflete ainda na campanha de reeleição do presidente Donald Trump, enquanto no Brasil o Ministério da Agricultura era contra a prorrogação. O governo justificou, contudo, que a medida permite ganhar tempo para negociação de uma posição melhor para a exportação de açúcar aos Estados Unidos.
Além da homenagem em Sinop e a visita à Inpasa, o presidente também vai participar da entrega de títulos de propriedades rurais em Sorriso (MT), além do lançamento simbólico do plantio da soja. Pela agenda oficial, não consta compromisso em relação ao combate às queimadas que afetam o Estado.
Fonte: Estadão