Projeto Samaúma Literária está reunindo artigos para publicação de um livro digital sobre mulheres negras na Amazônia.

O objetivo é dar visibilidade a produção literária das mulheres negras do Baixo Amazonas. Para estimular a escrita, aulas virtuais, sobre temas transversais relevantes à discussão das temáticas que serão abordadas no livro, estão sendo ofertadas.
Reprodução – Projeto Samaúma Literária

O Projeto Samaúma Literária está reunindo artigos para publicação de um livro digital sobre mulheres negras na Amazônia. A ideia é dar visibilidade à produção literária das mulheres do Baixo Amazonas. O Projeto, realizado em parceria com o Movimento das Mulheres Negras de Santarém, e apoio do Programa de Aceleração do Desenvolvimento de Lideranças Negras: Marielle Franco, uma iniciativa do Fundo Baobá para Equidade Racial, visa contribuir para a construção e divulgação de publicações de mulheres negras do Baixo Amazonas, além promover a democratização do conhecimento.

De acordo com o edital, serão selecionados 12 (doze) artigos originais e inéditos para a publicação digital. O artigo deverá ser autoral, de escrita original e inédita, em língua portuguesa, e deverá atender requisitos e normas do item 4 do edital. (Confira o edital no final da matéria).

De acordo com a coordenadora da Comissão Organizadora do Projeto, Girlian Silva de Sousa, “o racismo estrutural manipula a forma como os indivíduos leem e reproduzem as relações sociais. Portanto, esse sistema simbólico interfere nos diversos campos sociais (econômico, político, acadêmico, artístico, literário, etc.). Vivemos em uma sociedade elitista, patriarcal e heteronormativa – ambiente (in) perfeito, para a produção de desigualdades e exclusões”.

Para Girlian, embora nos últimos anos, algumas intelectuais negras brasileiras, tenham conseguido ganhar destaque no mercado literário nacional (graças, principalmente, ao movimento negro), estas ainda representam exceções à regra.

“Conceição Evaristo, uma das mais influentes escritoras negras brasileiras da atualidade, enfatiza que a escrita, assim como a publicação, são atos políticos. Isto porque, consistem em estratégias de desconstrução do imaginário brasileiro, no qual a mulher negra é colocada na posição de subalternidade. Neste sentido, em se tratando das intelectuais negras da/na Amazônia, estas enfrentam, para além dos desafios comuns às intelectuais negras em geral, as barreiras criadas pelo preconceito em relação ao território: as regiões centrais do país, ainda ignoram que a região amazônica produz, entre as diversas formas de saberes, o saber científico; o racismo estrutural, e a ignorância, resultam no silenciamento da maioria das intelectuais negras amazônidas, no cenário nacional. Às mulheres negras do interior da Amazônia, resta, quase sempre, o papel de “objeto de estudo”, por vezes, “interpretado” a partir de teorias pseudocientíficas e colonialistas. Dificilmente, o papel de protagonista da sua própria história, como produtora de conhecimento”, destaca a coordenadora.

Como surgiu o Projeto

Conforme Girlian Silva, foi a partir do reconhecimento da insuficiência de iniciativas voltados para visibilização do trabalho dessas intelectuais, que surgiu o projeto Samaúma Literária. Tanto o nome, quanto a estrutura do projeto, foi inspirado na lenda indígena amazônica, sobre a Samaumeira, cujas sapopemas, guardariam um portal de comunicação com o outro mundo. “Além disso, inspirou-nos, profundamente, o papel ecológico desta árvore; através das suas raízes a Samaúma, coleta água no subsolo, e irriga não somente suas folhas, mas também, às espécies vegetais ao seu redor”.

O Samaúma Literária foi pensado com base nessa lógica: produzir, coletar, e compartilhar conhecimento. O objetivo do projeto, é contribuir para a construção e divulgação de artigos escritos por mulheres negras cis e trans do Baixo Amazonas, através da publicação de um livro digital, sobre mulheres negras da Amazônia. “Queremos ouvir as vozes dessas mulheres, através da sua escrita. Para garantir que isto aconteça, a submissão dos artigos será inteiramente gratuita, e o livro será publicado em licença Creative Commons (licença aberta). A licença aberta, democratiza o acesso ao conhecimento, e estimula a divulgação do trabalho das autoras, uma vez que o livro será disponibilizado gratuitamente”.

Para estimular a escrita de autoras que estão afastadas do universo acadêmico, ou em processo de formação acadêmica, o Samaúma Literária, conta com a colaboração de parceiros voluntários, que se dispuseram a ministrar aulas virtuais, sobre temas transversais relevantes à discussão das temáticas que serão abordadas no livro. As aulas virtuais iniciaram no último dia 15 e seguem até 31 de agosto.

Edital

O edital para a chamada de artigos encontra-se aberto, e o período de submissão de artigos se encerra no dia 30/11/2020.

Os textos submetidos deverão encaixar-se em um dos eixos temáticos, que são bastante amplos:

Eixo 01: Mulheres Negras, Diversidade, Saberes Amazônicos e Religiosidade;

Eixo 02: Mulheres Negras na Construção do Espaço Econômico da Amazônia;

Eixo 03: Mulheres Negras, Direito, Educação, Arte, Saúde e Bem Estar Social.

Confira o  edital.

Tanto o edital, quanto as informações sobre as aulas virtuais, também estarão disponíveis no perfil do Instagram do projeto (@samauma_literaria), e no Facebook do projeto: Samaúma Literária.

Vale destacar a proposta inovadora do Samaúma Literária, de uma publicação organizada por mulheres negras, sobre mulheres negras da Amazônia, escrita por mulheres negras cis e trans do Baixo Amazonas, respeitando a questão da diversidade, e considerando a questão do território e as dificuldades para visibilização das intelectuais negras do interior da Amazônia.