A taxa de ocupação de leitos clínicos exclusivos para covid-19 no Pará é de 40.32%.
O Pará tem 100.443 mil casos confirmados de covid-19 e 4.845 mortos pelo vírus, foi o que divulgou a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) neste sábado, 27, às 18h. Se fosse um país, o Pará estaria na 20ª colocação de um ranking mundial, superando países como Catar, Colômbia, Suécia, Egito, Bélgica, Argentina e muitos outros.
Divulgação: Sespa
A taxa de ocupação de leitos clínicos exclusivos para covid-19 no Pará é de 40.32%. Segundo a Sespa, há 909 disponíveis. Confira:
Os dados de casos confirmados nos países estão disponíveis no Rastreador do Covid-19, uma ferramenta ao vivo que foi desenvolvida pela empresa Microsoft. O mapa online da covid-19 utiliza dados de fontes como a Organização Mundial da Saúde (OMS), o Centro de Controle e Prevenção de Doenças dos Estados Unidos (CDC) e o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC).
Informações do “Covid-19 Map” também foram utilizadas, O painel online pela Universidade Johns Hopkins se tornou uma referência durante a pandemia, principalmente pela agilidade da atualização dos dados. A ferramenta aponta um mapa com os casos registrados e listas com os números de infectados, mortos e curados, separados por país ou região.
Fotos do site Rastreador, desenvolvido pela Microsoft.Última atualização às 18h. O Pará fica atrás do Canadá e acima do Catar, na 20ª colocação.
A professora doutora, Marília Brasil, comenta sobre o que influenciou o Pará a ter números altos “Foi o que aconteceu no Brasil. Na verdade, não se fez planejamento algum e não se tomou as medidas a tempo. Nós sabíamos que a pandemia chegaria aqui, já havia chegado anteriormente na China, Europa e viria para cá e não foi tomada a medida de vigilância adequeada”, afirma.
Para a pesquisadora do Laboratório de Epidemiologia, Territorialidade e Sociedade da Universidade Federal do Pará, a região paraense não se preparou.”O Pará era um cenário extremamente propício e no retorno de férias aconteceu essa situação. Muita gente havia se deslocado para outros estados e para a Europa, então, em março a gente teve o cenário da pandemia se disseminando no nosso Estado, então, exatamente pelo atraso nas medidas necessárias esse avanço seguiu na sua progressão logaritímica no cenário assustador”, frisa a médica.
“A melhor medida quando não se tem vacina é o distanciamento social. O Pará demorou a iniciar o lockdown, as medidas nunca foram suficientes, nunca atingiu-se o isolamento de 70% e oscilou em vários locais. Isso levou ao aumento de casos no Estado do Pará. Depois do lockdown, que nós na verdade nunca fizemos adequadamente e nunca atingimos a taxa necessária, as pessoas acharam que a retomada é normal, o estado de normalidade voltaria e a pandemia estaria controlada, o que não é verdade”, conta a professora doutora.
A Organização Mundial da Saúde (OMS), indica uma taxa de isolamento de pelo menos 70%, mas o Pará não alcançou até agora o índice desejado. Ontem, 26, o Estado ficou na 20ª posição no ranking nacional de isolamento social, com taxa de 36,62%. É a mesma colocação de Belém, que registrou 37,27%. Os dados foram divulgados hoje pela Secretaria de Estado de Segurança Pública e Defesa Social do Pará (Segup).
Segundo a pesquisadora, a territorialidade grande do Estado também foi um ponto influenciador no descontrole da pandemia. “O Pará é grande, tem 144 municípios, e as regiões estão em momentos diferentes. Nós temos no Estado todo, uma taxa de reprodução viral que ainda não é menor que 1, que é a taxa desejável para se começar a retomada das medidas de forma escalonada”.
A retomada teria anunciada antes mesmo da estabilidade dos casos, segundo Marília Brasil. “O Pará tomou em vários locais essas medidas de retorno antes mesmo do controle, até mesmo na capital, então isso é temerário. Nós podemos ter uma nova onda? Sim, podemos. Até porque nós, em termos de Pará, não entramos no período nem de estabilidade. Vários municípios estão ainda em período de exceção, então em nenhum momento podemos dizer que nós já chegamos, estamos parados e poderemos iniciar a descida da curva para depois tomar medidas”, explica.
A flexibilização do isolamento social pode ter sido influenciada pelos setores econômicos, pela pressão de fazer a economia girar novamente. “As pressões são muitas, realmente nós sabemos que existem outros problemas decorrentes do isolamento. As crianças precisam estudar, as lojas precisam funcionar e a economia precisa girar, mas nós já percebemos, aqui mesmo na capital, a taxa de ocupação que parecia estabilizar, já aumentou”, indica a pesquisadora. “O interior do Estado se desloca para a capital, porque o interior tem números de leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) baixos, principalmente em determinadas regiões e isso sobrecarrega também a capital”.
Marília Brasil frisa que é importante uma atuação mais presente do governo e que a população precisa ter ciência de que não está tudo sob controle. “É temerário. A população parece que realmente relaxou e, por isso, as autoridades têm que assumir seu papel também, demostrando que o escalonamento da retomada tem que ser feito com mais cuidado para que nós não tenhamos uma nova surpresa”, finaliza.
O primeiro caso
O número alto confirma que desde o dia 18 de março, quando foi oficializado o primeiro caso do novo coronavírus no Estado, o índice só aumenta. Até ontem, 26, eram 99.313 casos e 4.834 óbitos no Pará. Desde então, muitas medidas foram tomadas, mas nenhuma conteve o avanço do vírus.
O Estado entrou em isolamento social no dia 16 de março e entrou em lockdown em maio. Mas no dia 24 de maio, o decreto que determinava o fechamento total chegou ao fim.
Governo do Pará apresenta relatório
Para justificar a flexibilização, o governo apresentou, no dia 23 de maio, um relatório que apontava uma tendência de queda nos números. Segundo eles, o estudo era assinado pelas Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) e Universidade Federal do Pará (UFPA) em parceria com a Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Educação Profissional e Tecnológica (Sectet), Sespa, Fundação Amazônia de Apoio a Estudos e Pesquisas (Fapespa) e Empresa de Tecnologia da Informação e Comunicação do Estado do Pará (Prodepa).
Entretanto, a UFPA negou ter responsabilidade institucional no estudo. Segundo eles, não era possível e coerente dizer que o Pará realmente vivenciava uma queda na curva de casos de coronavírus, já que os números, são voláteis e não representam a realidade da população paraense.
No Twitter, a universidade respondeu a questionamentos. “O relatório mencionado é de responsabilidade institucional apenas da Universidade Federal Rural da Amazônia, não da UFPA, ainda que tenha contado com a participação de docentes da UFPA, que atuaram com independência no estudo. Todas as posições institucionais da UFPA têm sido veiculadas nos canais oficiais da instituição, com a indicação de que são baseadas diretamente nas recomendações do GT sobre o Novo Coronavírus”, afirmou a instituição.
Nova pesquisa
No dia 2 de junho, a UFPA divulgou um novo estudo que apontava que os números oficiais sofrem com uma subnotificação, representada pelo atraso das notificações das prefeituras municipais ao Estado, além dos óbitos com causas de morte dadas erroneamente.
De acordo com os estudos, Belém pode ter até dez vezes mais casos que o real registrado.
Além disso, os pesquisadores tinham observado um aumento fora do padrão de mortes de outras doenças, com sintomas similares aos da covid-19, neste período de pandemia. E considerando essas causas de óbitos que fogem do padrão esperado, notou-se um acréscimo significativo nos números de mortes pela nova doença no período da epidemia.
Os pesquisadores comprovaram que o Governo do Estado se embasou em dados imprecisos. Os 11 cientistas que assinaram a Nota Técnica, afirmaram que “assumir valores voláteis como definitivos é um raciocínio anticientífico, que pode condenar grande parte da população a contrair a doença e em proporções indefiníveis”.
Fonte: Roma News