Servidora de Oriximiná acusa irmão do vice-prefeito de racismo

Professora ainda questionou o atendimento que recebeu na delegacia do município
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A professora Patrícia Gemaque acusa o veterinário e pecuarista Luiz Souza Júnior, irmão do atual vice-prefeito de Oriximiná, de racismo. Ela é servidora administrativa da prefeitura do município e registrou um boletim de ocorrência contra ele. Em uma publicação, no Facebook, o homem usou uma foto dela, ao lado de uma escultura de uma mulher negra e com uma menção à vereadora Marielle Franco — assassinada em 14 de março de 2018, no Rio de Janeiro —, para riscar o rosto de preto e dizer “Semelhante atrai semelhante. O resto deixo com os vcs” (sic. com emojis de risos). À reportagem, Luiz Souza Junior disse, por telefone, que vai manter a publicação.

Para a servidora, a publicação tem conotação racista. E é quase uma apologia à violência contra ela. Patrícia registrou ocorrência na Delegacia de Polícia Civil de Oriximiná. Contudo, diz que o atendimento prestado pelo delegado Edmilson Bastos Faro tentou minimizar o ocorrido. No BO, o caso foi tipificado como injúria comum. Não foi como crime de racismo ou injúria racial. “O delegado tentou me dar uma aula sobre quem foi Marielle Franco, que eu não precisava, e disse que eu deveria procurar um advogado para fazer uma interpelação”, comentou. Em nota, a Polícia Civil apenas comentou que “…conforme o relato no boletim de ocorrência, não há suposto caso de injúria racial”.

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Tudo ocorreu no dia 23 de junho, durante discussões no Facebook sobre a pandemia de covid-19 — doença causada pelo coronavírus sars-cov-2 — em Oriximiná. Luiz Júnior teceu comentários, em uma publicação, na qual se posicionava contra a recomendação de distanciamento social temporário. Associou que só servidores públicos concursados ou com cargos políticos defendiam isso por terem salários garantidos, enquanto demais trabalhadores passam fome. Na opinião dele, a culpa era da prefeitura e a população não poderia ser responsabilizada. Patrícia contestou.

Atualmente, há um suposto racha político entre o prefeito Antônio Odinélio Tavares da Silva e o vice prefeito Hércules Bentes de Souza (irmão de Luiz). Luiz Júnior e Hércules são filhos de Luiz Souza, que foi prefeito de Oriximiná de 1989 a 1992. O veterinário e pecuarista criticou o hospital do município, que ele disse ainda ter “…estrutura da década de 1970”. Patrícia ressaltou o pai dele havia sido prefeito e que o irmão era vice-prefeito atualmente. Logo, essa reclamação seria enviesada ou tendenciosa pelo momento político da cidade.

A discussão dos dois seguiu e Patrícia fez uma publicação no próprio perfil. “Eu nem citei nomes diretamente e disse que, historicamente, a saúde em Oriximiná é precária. Problema de todos os prefeitos que já passaram por lá. Nós dependemos totalmente de Santarém. Ele se sentiu ofendido e fez um textão me chamando de massa de manobra e aprendiz de esquerdista. O momento da pandemia precisa ser uma luta coletiva”. Foi quando a publicação, usando a foto dela, surgiu.

“É uma foto no centro histórico do Maranhão. Eu estou ao lado de uma escultura de uma mulher negra. E, nessa foto, usei o slogan de luto pela Marielle Franco. Ele risca meu rosto de preto e diz que semelhante atrai semelhante, incitando racismo e misoginia”, criticou a servidora municipal.

A redação integrada de O Liberal procurou Luiz Júnior para que ele se explicasse. Por telefone, ele não se desculpou por nada e disse que vai manter a publicação (ainda que tenha limitado o alcance público dela no Facebook, sendo restrita a amigos). Para ele, não houve qualquer problema no que foi escrito e ele se ampara no argumento de opinião. Na opinião dele, a vereador assassinada era uma “péssima cidadã” – mas sem especificar fatos que comprovassem isso.

Luiz disse que se defendeu das acusações e que a servidora deveria reclamar com o pai dele ou com o irmão dele, diretamente, pelas gestões na prefeitura. Ao longo da entrevista, ele acusava Patrícia de tentar “denegrir” a imagem dele e da família. “Sou responsável pelo que escrevi. Não pelo que ela entendeu. Ela precisa respeitar a minha opinião”, concluiu.

O Liberal