Ufra acerta mais de 95% das projeções de Covid-19 no Pará

Universidades federais do Brasil integram pesquisas; Ufopa é uma delas
Boletim Covid-PA é divulgado semanalmente pela Ufra com detalhes do novo coronavírus no Pará | Marco Santos/Agência Pará

Desde fevereiro, quando foram registrados os primeiros casos oficiais de Covid-19 no Brasil, pesquisadores da Universidade Federal Rural da Amazônia (Ufra) têm desenvolvido estudos para entender o comportamento da doença no Pará. A partir de abril, formou-se uma força-tarefa multicampi, em parceria com profissionais de outras instituições de pesquisa, para o desenvolvimento de um estudo único de previsão de novos casos de infecção e de óbitos no estado, bem como de estimativa de demanda por recursos hospitalares, tais como leitos de UTI, leitos clínicos, médicos, fisioterapeutas, enfermeiros e técnicos de enfermagem.

A pesquisa resultou na criação do Boletim Covid-PA, um material divulgado semanalmente pela Ufra com projeções para sete dias sobre o comportamento da pandemia no estado e suas microrregiões. Desde maio, o boletim também tem servido de referência técnico-científica para o Governo do Pará quanto às decisões a respeito das políticas públicas de enfrentamento ao novo coronavírus.

Com metodologias de modelagem matemática e Redes Neurais Artificiais (RNA), o estudo se baseia nos dados oficiais fornecidos pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), mas também nos dados do Ministério da Saúde (MS) e em relatórios da Organização Mundial da Saúde (OMS). Para chegar à projeção, foram identificados os padrões comportamentais da sociedade, extraindo-se casos ocorridos no Pará para análise e comparando-os com os dados nacionais e internacionais.

As estimativas do Boletim Covid-PA têm demonstrado um alto percentual de acerto, conforme demonstram os números oficiais. O professor Marcus Braga, um dos pesquisadores à frente do trabalho, explica que os primeiros cinco boletins publicados tiveram uma alta precisão. “Os valores previstos estão bem próximos aos números relatados pelos boletins da Sespa, mostrando a alta acurácia do modelo de previsão adotado”, afirmou.

Para se ter uma ideia, o Boletim Covid-PA nº 5, publicado no último dia 10, estimou 65.682 casos confirmados acumulados e 4.262 óbitos acumulados para o dia 12. Logo depois, o boletim oficial da Sespa desta data reportou 67.476 casos e 4.181 mortes acumulados. Isso demonstra um acerto de 97,35% para casos e 98,1% para óbitos.

O professor explica que o modelo adotado, utilizando inteligência artificial, tem uma comprovada capacidade de adaptabilidade a problemas de previsão epidemiológica, já tendo sido aplicado em estudos envolvendo outras epidemias, tais como de Ebola, Zika e Síndrome Respiratória do Oriente Médio (MERS), que é também um tipo de coronavírus.

Assim como previu o estudo, as microrregiões de Belém e Castanhal vêm apresentando tendência de queda na curva de contágios confirmados desde o final de abril e o Pará como um todo também começa a apresentar um comportamento de queda. No entanto, a doença segue em expansão em algumas microrregiões do estado.

Universidades federais do Brasil integram pesquisas

Além dos pesquisadores da própria Ufra, o Boletim Covid-PA conta com a contribuição de profissionais independentes da Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade Federal de Viçosa (UFV), Universidade Federal do Paraná (UFPR), Universidade do Estado do Pará (Uepa) e outro profissionais. Mais recentemente, também passou a receber apoio institucional da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa), que acompanha a evolução da pandemia na região Oeste.

A Ufopa contribui para o estudo através da interpretação técnica dos dados para as regiões do Baixo Amazonas e Tapajós, onde estão localizados os seus campi, como explica a professora Luana Rodrigues. “Essa interpretação dos números é baseada pelo conhecimento técnico-científico, contrapondo-o às informações acerca da realidade local em termos de demanda hospitalar e políticas tomadas pelos gestores municipais”.

Reitor da Ufopa, Hugo Diniz, também é um dos pesquisadores envolvidos no Boletim. O professor explica que a instituição começou a desenvolver um estudo que utiliza fontes de dados e métodos diferentes dos utilizados pela Ufra. “A metodologia utilizada pela Ufra é mais robusta do que a utilizada por nós. Nós utilizamos uma análise clássica e estritamente matemática dos números. Já o estudo da Ufra é multidisciplinar e possui uma abordagem mais ampla, incluindo dados hospitalares. Mesmo com diferentes metodologias, os estudos convergem em seus resultados”, afirma. “Gostaríamos de destacar que a qualidade do trabalho liderado pela Ufra conseguiu algo que as universidades sempre pleitearam, que é um espaço no fórum de decisões estratégicas das políticas públicas, o que é muito importante neste momento”, ressalta.

Fonte: Diário Online