Nova pesquisa aponta que Pará teve mais mortes por covid-19 que o registrado e queda de contágio da Sespa não tem base científica

Para os pesquisadores, as medidas de afrouxamento de isolamento social são anticientíficas e gerir esta crise com dados imprecisos “pode condenar grande parte da população a contrair a doença e em proporções indefiníveis”
Crédito: Agência Pará

A Universidade Federal do Pará (UFPA) aprovou uma Nota Técnica avaliando o atual cenário da pandemia da covid-19 no Brasil, com destaque para o estado do Pará. Segundo a pesquisa, nossos números oficiais sofrem com uma subnotificação, representada pelo atraso das notificações das prefeituras municipais ao Estado, além dos óbitos com causas de morte dadas erroneamente.

Por esse motivo, não é possível e coerente dizer que o Pará está vivenciando uma queda na curva de casos de coronavírus, já que os números, são voláteis e não representam a realidade da população paraense. De acordo com os estudos, Belém pode ter até dez vezes mais casos que o real registrado.

Erros nas causas de mortes

Os pesquisadores observaram que houve um aumento fora do padrão de mortes de outras doenças, com sintomas similares aos da covid-19, neste período de pandemia. E considerando essas causas de óbitos que fogem do padrão esperado, nota-se um acréscimo significativo nos números de mortes pela nova doença no período da epidemia.

Abaixo, veja o gráfico que compara os números oficiais e os números estimados de mortes causados pela covid-19:


Foto: Reprodução/Laboratório de Tecnologias Sociais da UFPA

A pesquisa aponta também uma estimativa de erros de notificações de mortes desagregada por tipo de doenças. O resultado revela a diferença em valores absolutos do real notificado para o previsto no estudo. Os números apresentados no final de cada barra do gráfico abaixo é a estimativa de mortes totais considerando a soma das causas em seus respectivos picos de contágios de cada cidade:

 Foto: Reprodução/Laboratório de Tecnologias Sociais da UFPA

“Acredita-se que os quantitativos apresentados correspondem a possíveis casos de óbitos relacionados a COVID-19 em cada cidade e que foram registrados erroneamente como causa outras doenças”, afirma os pesquisadores.

Atraso das notificações de casos e óbitos

De acordo com os dados da pesquisa, a queda de contágio apontado pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), usado para justificar a reabertura gradual de setores no Pará desde esta segunda-feira, 1º, ocorre devido ao atraso de ordem de dezenas de dias das notificações.

“Não é razoável, sob o ponto de vista estatístico, assumir eventuais decréscimos das curvas de infectados e de óbitos, tendo-se uma defasagem de ordem de dezenas de dias. Basta extrapolar tal princípio para o futuro, para inferir-se que é impossível estimar que não haverá casos, nos próximos 30 ou 40 dias, que sejam referentes à data atual. O que significa afirmar que os valores aferidos hoje terão que ser acrescidos de valores ocorridos no tempo futuro, numa espécie de estoque de casos de infectados e óbitos, com um alto grau de aleatoriedade associado”, diz a pesquisa.

A recomendação é: isolamento social

Após comprovar que o Governo do Estado está se embasando em dados imprecisos, os 11 pesquisadores que assinaram a Nota Técnica, afirmaram que “assumir valores voláteis como definitivos é um raciocínio anticientífico, que pode condenar grande parte da população a contrair a doença e em proporções indefiníveis”.

Segundo eles, pelos “fatores como o R0, ciclo da doença, imunidade, período de incubação, número de assintomáticos” não estarem claramente definidos internacionalmente e cientificamente, “qualquer suposição acerca do comportamento da doença tomado como uniforme seja mera especulação e não deva ser considerado, de maneira segura e responsável, por gestores públicos em suas tomadas de decisão”.

Portanto, a pesquisa finaliza apontando que não há meios e provas para afirmar que o estado do Pará está, de fato, em uma curva decrescente de casos de covid-19, e por isso, ainda não é seguro afrouxar as medidas de isolamento social. “À luz do exposto, entende-se que, a partir dos dados oficiais, tomando-se como referências os mais relevantes estudos realizados no Brasil e internacionalmente, não há como afirmar inequivocamente que o Pará ou a Região Metropolitana de Belém esteja já na curva descente da pandemia. Assim, com base na prudência, em não havendo vacina ou medicamentos comprovadamente eficazes, a única estratégia para desacelerar a pandemia continua sendo o isolamento social”.

A pesquisa

A pesquisa teve como objetivo prestar informação científica à sociedade e em resposta às solicitações dirigidas à Universidade Federal do Pará (UFPA) pelo Ministério Público do Estado do Pará (MPPA) e pelo Ministério Público Federal (MPF). A Nota Técnica foi apresentada pelo Laboratório de Tecnologias Sociais do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Elétrica da UFPA, em parceria com pesquisadores da Universidade de São Paulo (USP), do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP).

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Fonte: Roma News