Segundo jornal, agentes apontam que ofensiva do presidente para mudar chefia da corporação foi motivada pelas investigações que chegaram ao seu filho. Planalto avalia nomear amigo de Carlos como novo diretor-geral da PF.
A Polícia Federal identificou o vereador Carlos Bolsonaro, o filho “02” do presidente Jair Bolsonaro, como um dos líderes de um esquema criminoso de produção e propagação de notícias falsas, de acordo um inquérito sigiloso conduzido pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Segundo o jornal Folha de S.Paulo, os investigadores da PF não têm dúvidas de que a decisão do presidente Bolsonaro de exonerar o diretor-geral da corporação, Maurício Valeixo, e pressionar o Ministério da Justiça a substitui-lo por um nome mais dócil aos interesses do Planalto está ligada às conclusões do inquérito.
Na sexta-feira, o então ministro da Justiça Sergio Moro pediu demissão do cargo e acusou o presidente de interferência política na PF. O nome mais cotado para substituir Valeixo na PF é o de Alexandre Ramagem, atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e justamente um amigo do vereador Carlos.
De acordo com a Folha, além de identificar Carlos, a PF investiga a participação de outro filho do presidente, o deputado Eduardo, no esquema de fake news.
As suspeitas de uma eventual ligação de Carlos Bolsonaro com grupos difusores de fake news já remonta ao final do ano passado. Em dezembro, em depoimento à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News, a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP), ex-líder do governo no Congresso, denunciou um esquema de propagação de notícias falsas que funcionaria na sede da Presidência. Segundo ela, os mentores da rede são Carlos e Eduardo.
“Qualquer pessoa que eventualmente discorde [da família Bolsonaro] entra como inimigo da milícia”, disse, acrescentando que o grupo atua com uma estratégia bem definida e organizada, começando com uma lista de pessoas consideradas “traidoras” e que são escolhidas como alvo dos ataques cibernéticos.
O último “traidor” das redes de difusão bolsonaristas parece ser o próprio ministro Moro. No mesmo dia da sua saída do governo, essas redes passaram a acusar Moro de ser “a favor do aborto”, “de trair Bolsonaro”, de ser “um tucano disfarçado” e até mesmo de ter sido leniente com a criminalidade.
Ao longo do ano passado, a artilharia dessas redes já havia mirado outras figuras que ocuparam ministérios, como o general Santos Cruz e o cacique partidário Gustavo Bebianno, além de desafetos do Planalto, como o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ). Jornalistas que publicam matérias críticas ao governo também costumam entrar na mira dessa máquina de propagação de boatos e ataques, que foi apelidada de “Gabinete do Ódio”.
De acordo com a Folha, o mesmo grupo de delegados responsável pelo inquérito das fake news também conduz a investigação aberta na terça-feira pelo STF para apurar os protestos pró anticonstitucionais que pedem o fechamento do Congresso.
O inquérito foi aberto nesta semana a pedido da Procuradoria-Geral da República após mais uma manifestação no domingo passado. A concentração de Brasília chegou a contar com a participação do presidente Jair Bolsonaro, que no ano passado também convocou manifestantes para um protesto similar.
Nesta semana, em meio às investidas do Planalto para barrar as investigações, o ministro Alexandre de Moraes, do STF determinou que os delegados do caso não podem ser substituídos, como forma de blindar as apurações
Após a publicação da reportagem da Folha, o vereador Carlos compartilhou no Twitter uma mensagem refutando o conteúdo.
“Esquema criminoso de… NOTÍCIAS FALSAS O nome em si já é uma piada completa! Corrupção, tráfico, lavagem, licitações? Não! E notaram que nunca falam que notícias seriam essas? É muito mais fácil apontar manipulação feita pela grande mídia. Matéria lixo!”.
DW – JPS/ots
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